Deus, Pátria e Família – Perdoe-se-me o desabafo, BASTA!

Não nego a importância do desporto e, em especial, do futebol. Não fiquei indiferente às mortes, num acidente rodoviário, de dois jovens futebolistas, um de nível europeu, cuja existência, por alheamento da modalidade, ignorava antes das notícias do falecimento.

Não me repugnou a ida do PR e do PM à terra de origem dos atletas por solidariedade com uma família destroçada no pungente adeus a que se associaram grandes estrelas do futebol europeu que, com um deles, fizeram o seu percurso desportivo. Tão pouco me permitiria contestar dois dias de luto nacional em sua honra.

Só me pareceu obsceno que o PR e o PM tivessem de justificar a ausência no funeral por impossibilidade de agenda, no caso do PM para ir a Espanha a um comício contra o Governo onde fez um discurso de extrema-direita a vituperar a imigração na defesa da ordem e da segurança.

Há neste regresso à exaltação do futebol, às cerimónias religiosas com bispos e a um nacionalismo serôdio a pretexto do futebol, não do desporto, que tão parco apoio goza, um regresso manso ao fascismo e à trilogia Deus, Pátria e Família.

As televisões aumentaram a comoção seguindo as lágrimas, a liturgia e os ataúdes numa exibição grotesca e obsessiva da morte e da dor, em fuga aos problemas nacionais e e às notícias, enquanto em rodapé noticiavam a morte de uma figura maior da democracia e um dos maiores obreiros do 25 de Abril, general Garcia dos Santos, figura emblemática que quem sofreu a ditadura traz no devocionário há 51 amos.

Espero que o PR e o PM compareçam amanhã no funeral do excelso cidadão e honrado militar, um dos mais importantes a quem devem os cargos que ocupam em democracia.