Do Diário da Diana – 13 anos – escola C+S da Musgueira
Agora, de férias, tenho mais tempo para as leituras e
conversas com a minha mãe. Ela não interrompe o que faz para conversar e anda
incomodada com o que acontece em Portugal e no mundo. Ontem falámos da UE, de guerras
e de várias outras coisas.
Quanto às guerras, continua receosa da ameaça nuclear e
dilacerada com a crueldade e a facilidade com que as pessoas aceitam as mortes
longe das fronteiras. Informa-se e sabe separar a propaganda dos factos. Se
falasse com algumas pessoas julgá-la-iam putinista, seja isso o que for.
Abomina Putin e todos os ditadores.
O que a mãe não é, é parva. Sabe que, depois da Hungria e da
Eslováquia, os partidos favoritos nas sondagens para as eleições próximas na
Roménia e na Bulgária são pró- Rússia. Até na Ucrânia, já são maioritários os
que preferem a Paz e perda de território à continuação da guerra. Em toda a UE diminui
o apoio à guerra e, por causa dela, ganha mais força a extrema-direita. A
realidade não se compadece com o direito internacional.
Quanto ao genocídio em Gaza seria designada antissemita, e
não sei de ninguém tão adversária do nazismo e das perseguições aos judeus! E a
nossa UE delapidou em Israel a autoridade moral que reclama para a defesa da
Ucrânia.
Quanto ao Estado da Palestina diz que o Governo de
Montenegro pondera reconhecê-lo, só aguarda a expulsão dos palestinianos que
sobrarem. Fará a coisa certa, mas cada coisa a seu tempo. Ó mãe – disse eu,
estás a ironizar! O sorriso amargo bastou-me. E ficou tão satisfeita comigo
como o Trump com o inglês do presidente da Libéria!
Percebi logo a ironia porque o Paulo Rangel diz que não é
genocídio, é apenas resposta ao terrorismo do Hamas. E a minha mãe refere há
muito a duplicidade dos países da UE, ansiosos por prender Putin, por crimes de
guerra, enquanto pactuam com Netanyahu.
Na política interna, agora que o líder do PS prometeu
desistir da CPI à SPINUMVIVA, o André deixou de falar nisso. Teme-se que os
negócios obscuros do Luís sejam a causa das cedências ao André. É a consequência
de termos um PM que quis preservar avenças e pode estar agora sob chantagem e sem
escrutínio da opinião pública.
Marcelo, tão exigente com o PS, ele que não tutela os
Governos, e gosta de fingir que manda, está mansinho e virou paquete do Luís. E
era tão irascível com os ministros! Até ameaçou o Costa quando deu posse ao seu
último Governo. Disse que dissolveria a AR se ele saísse e, garantido o PM
manter-se, teve o PR de o levar à demissão em parceria com a PGR.
Eu já não me lembro do que Marcelo fez à ministra Constança
nos fogos de Pedrógão, a minha mãe é que me o disse, mas recordo a patética
perseguição ao Galamba e ameaças à Ana Abrunhosa, se não executasse bem o PRR. Agora,
com Miguel Pinto Luz, cala-se. Entradas de leão com o governo Costa, saídas de
sendeiro com o do Luís a quem unge para não assistir à queda nos últimos meses
do seu penoso mandato.
Quando algum dos meus professores aborda a Ucrânia ou Israel
calo-me. Tenho sempre presente o que a minha mãe me disse um dia, não se pode
discutir futebol, Ucrânia e o Acordo Ortográfico (AO/90) porque são os assuntos
que mais crispam os portugueses. Ora, de futebol não falo porque nada sei e não
me interessa e o AO/90 não me afeta. Foi assinado e tornado obrigatório antes
de eu nascer e ignoro a ortografia anterior.
Hoje registo o essencial da conversa com a minha mãe. Amanhã assisto ao anúncio das tarifas do desmiolado Trump à UE, depois de Mark Rutte o deleitar com a subserviência ao paizinho e a promessa da compra de armas.
Sei
que o homem tem cérebro, como toda a gente, mas não leu o livro de instruções. 😊E ainda há quem lhe chame o líder do mundo
livre, como o Botelho Moniz! E, pior, o nosso principal aliado. Até fui ver o
significado da palavra aliado.
Musgueira, 13 de julho de 2025 – Diana
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