Ramalho Eanes referiu como trágica a descolonização em que «milhares de pessoas foram obrigadas a partir para um país que não era o seu». Tem razão o ex-PR cujo papel importante na democracia e o silêncio o agigantou depois da infeliz aventura por interposta esposa na criação do PRD e da adesão à Opus Dei, sempre por intermédio da devota e reacionaríssima consorte, que devolveu o agnóstico ao redil da Igreja. Eanes distinguiu-se no 25 de novembro, como Dinis de Almeida no 11 de março, ambos em obediência à cadeia de comando: Costa Gomes/Conselho da Revolução . Foi sob as ordens de Costa Gomes e de Vasco Lourenço, então governador militar de Lisboa, que, nesse dia, comandou no terreno as tropas da RML. Mereceu, por isso, ser candidato a PR indigitado pelo grupo dos 9 e apoiado pelo PS que, bem ou mal, foi o partido que promoveu a manifestação da Fonte Luminosa, atrás da qual se esconderam o PSD e o CDS. Foi nele que votei contra o patibular candidato do PSD/CDS, o general Soares...
Comentários
De nada vale falar sobre a taxa de desemprego homóloga quando, o horizonte do futuro, no mundo do trabalho, é cada vez mais negro e trágico.
Cito isto a propósito da notícia do encerramento da fábrica de Nelas da Johnson Controls. Neste momento com 650 trabalhadores, daqui a 9 meses, não haverá um.
Nelas não é um grande centro urbano, nem um polo comercial e industrial com dimensão suficiente para, autonomamente, encaixar este "choque".
As consequências indirectas - os agregados familiares e os dependentes - do previsto despedimento colectivo dos 650 trabalhadores deve ser vasta e catastrófica.
O meu comentário questiona, o que podemos chamar, os deveres sociais do Estado.
Penso que, dada a dimensão do concelho de Nelas, deveria ser decretado aí o estado de calamidade(pública e social).
As situações de calamidade não podem ficar reservadas para as intempéries sobre os cultivos (imundações ou secas).
O estado de calamidade deve funcionar, em primeiro lugar, para proteger o homem.
No infortúnio, deve trazer meios para os portugueses manterem a dignidade.
Ou melhor, possibilitarem viver (sobreviver) com dignidade.
Tenho muita pena de contrariar os novos ideológos portugueses mas tenho a certeza, que não pode ser o "normal" funcionamento do mercado, a sua solução.
Todos os dias assistimos -conformados?/inconformados? - ao paulatino desmantelamento dos pilares sociais do Estado.
Na área laboral, na Educação, na Saúde, etc.
Nunca tivemos uma segurança social forte e abrangente. Estamos em risco de a debilitar mais.
E, assim, comprometer o presente e o futuro. Não por causa da economia, da sustentabilidade, dos indices de produtividade, etc., mas pelo Homem.
Temos de interiorizar que a fome é inimiga da liberdade.
O que parecendo restricto é enorme.
Para onde vamos?
- "pobrezinhos mas felizes"...
mais adiante, peorou sobre:
- "...é mais importante sentir a recompensa e a satisfação pelo dever cumprido do que pensar na carteira" (a)
Para um professor de economia da saúde tais slogans tornam-o suspeito se anda a ler alguma bafienta cartilha do homem de Sta Comba. Ou, em alternativa, se entrou para alguma ordem mendicante...
Os funcionários públicos compreendem as dificuldades do País, mas não perdoarão a quem anda a gozar com eles. Ao contrário do que sucedia no tempo da "velha senhora", hoje há (de 4 em 4 anos) a oportunidade de
penalizar estes "cromos".
Passará, no juízo deste senhor, a ser necessário aos funcionários públicos um voto de probreza em substituição da famosa declaração de repúdio ... do tempo fascismo.
Não sei se estes conceitos tão lineares, vem na tal cartilha...
(a) - Referia-se ao congelamento dos salários (de 2007) dos médicos que trabalham no SNS.