Camarões – Meninas sem mamas

O horror nunca deixa de surpreender e agrava-se quando a superstição, o tribalismo, a fé e a tradição se conjugam.

Camarões foi o nome que os portugueses deram a uma região africana a cuja costa iam em busca de escravos no tempo em que sonhavam converter o mundo à fé cristã e onde desistiram de avançar para o interior porque as orações os não poupavam à malária. Hoje é um país do centro de África, com saída para o Oceano Atlântico, a aproximar-se dos 20 milhões de habitantes.

A fé da população distribui-se pelo cristianismo (56%), crenças tribais (23%) e islão (20%), sendo outras crenças quase inexistentes nesta república presidencialista que gravita na órbita dos Estados Unidos da América e da Europa, seus parceiros quase exclusivos nas trocas comerciais.

Neste país, maioritariamente cristão, colonizado por alemães, franceses e ingleses, as tradições tribais atingem o limite da crueldade e da demência. Calcula-se que um quarto das meninas é vítima do esmagamento das mamas, para dissimular a puberdade e evitar – segundo a crença tribal – as violações e gravidezes precoces.

Com pedras quentes e outros objectos planos ardentes sobre as mamas que despontam, as mães e outras mulheres da família procedem à sua destruição convencidas de que, atrasando o crescimento dos seios das meninas, as protegem dos olhares lúbricos dos homens, as afasta das relações sexuais e, quiçá, evitem gravidezes indesejadas.

Já conhecíamos a mutilação genital feminina, com a excisão do clítoris. Sabemos agora que a mutilação mamária através de objectos ardentes e esmagamento é outra crueldade ao serviço da repressão sexual, dos preconceitos e das tradições tribais. Há que apertar e queimar com violência as maminhas das meninas púberes ou pré-púberes, às vezes durante meses de tortura, indiferentes às deformidades e à dor que causam, aos traumas psíquicos e destruição de tecidos, às queimaduras e deformidades.

Segundo a agência oficial de cooperação alemã GTZ, que denunciou esta atrocidade e luta contra ela, metade das meninas a quem despontam as maminhas antes dos nove anos são vítimas desta medonha crueldade, segundo El País, de 12/09/2011, artigo de Charo Nogueira, onde recolhi a informação relevante plasmada neste texto.

Perante esta inaudita barbaridade, comum na África Ocidental e com especial incidência nos Camarões, termino revoltado como comecei: «O horror nunca deixa de surpreender e agrava-se quando a superstição, o tribalismo, a fé e a tradição se conjugam».

Ponte Europa / Sorumbático

Comentários

e-pá! disse…
Para além da ignóbil barbaridade que constitui este tipo de mutilação, existe uma pergunta que fica em suspenso:
Estas mulheres conseguirão - no futuro - amamentar?
e-pÁ:

Claro que nunca amamentarão. As glândulas mamárias são destruídas. Não é assim, Sr. Dr. ?
Que dirão a isto os nossos "multiculturalistas"? Que também devemos respeitar esta "cultura"? Que se trata de uma "civilização" tão válida como qualquer outra, designadamente a europeia?
ana disse…
É horrível. A maior parte destas mulheres nem sabe que noutros sítios as suas irmãs não são condenadas a cumprir até à morte a pena de, por acaso, terem nascido mulheres.
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