Homenagem a Jorge Amado - 100.º aniversário do seu nascimento
Jorge Amado 100.º aniversário do nascimento
(10 de agosto de 2012)
Foi há onze anos, o tempo voa. Era agosto quando, no dia 6, morreu Jorge. Amado e lido por tantos. Acabou o curso de Direito sem nunca levantar o diploma, num país onde se vai sempre buscá-lo mesmo sem frequentar o curso. Partiu da vida sem querer caixão. Quis ser apenas cinza à sombra da mangueira, no quintal que foi seu.
A seis de Agosto entrou na eternidade, quatro dias antes dos 89 anos. Amanhã completaria um século.
Apreenderam-lhe e queimaram-lhe livros na praça pública. Sofreu a prisão e o exílio mas nunca deixou que lhe aprisionassem a alma ou lhe roubassem os sentidos que guardou para o sortilégio do amor, a vertigem do desejo e a paixão da escrita.
Levou o país do Carnaval às terras do sem fim, ao mundo todo, nas páginas dos seus livros. A sua vida foi navegação de cabotagem circum-navegando o povo brasileiro para quem foi, também ele, um cavaleiro da esperança a sonhar searas vermelhas nos subterrâneos da liberdade.
Percorreu a vida, cumprindo-se. Amou. Amou profundamente. O corpo feminino. As mulheres. A vida. Capitão de longo curso a navegar a língua portuguesa através dos livros a que aportou. Viajou com meninos pobres, capitães da areia, ladrões, bêbados, prostitutas, bandidos, em repetidas viagens pelo sertão infestado de coronéis, donos de fazendas e de gente, de cacau e de café, de jagunços e honrarias, de garimpo e engenhos.
Jorge sabia o valor da mestiçagem, sabia que no amor, como na vida, é boa a diferença e sabe bem. Alimentou-o o desejo, ardente fixação no corpo feminino, desejo de que ainda tinha fome quando já não podia amar.
Em Salvador vinha-lhe da baía o cheiro a mar que o inebriava e da terra a força telúrica que o acompanhou. Foi lá que tantas vezes fez da palavra arma e dos seus livros a carabina que empunhou ao serviço das causas que defendeu. Foi lá que a tocaia grande o apanhou. Ao grande Obá.
Levou do banquete da vida um quinhão largo mas deixou abundantes e gostosas vitualhas na mesa da literatura – 44 livros sobre a toalha.
Partiu feito cinza para a sombra da árvore que plantou. Iemanjá ficou com ciúmes no mar de S. Salvador da Baía de Todos os Santos. Vestida de água, disponível para ele. Jorge preferiu a terra do porto a que o ligavam as amarras da vida. E por lá ficou. A imaginar os negros da Baía a dançar candomblé à volta da mangueira. Com Orixás a velar. À espera de Zélia.
Ponte Europa / Sorumbático
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