Jaime Marta Soares, de faca na liga? …

Os bombeiros – com especial relevância para os voluntários - são um exemplo de altruísmo e de entrega à causa pública que nunca é demais reconhecer. Alguns nós – muitos – temos uma divida de gratidão em relação a esta abnegação e todos podemos, no futuro, vir a estar.
Os dirigentes das corporações de bombeiros não têm necessariamente de cavalgar esta onda de reconhecimento ou pior, de reorientá-la para outros fins (sejam corporativos ou políticos)
A capitalização deste elevado contributo cívico prestado pelos bombeiros não é automática, nem uma questão de gratidão cega.

Muitos dirigentes destas associações humanitárias passam ao lado das tarefas acometidas aos bombeiros e aparecem na praça pública como arautos de protagonismos de secretaria, de gabinete ou veículos de interesses meramente corporativos.
O relatório sobre os incidentes de Pedrogão Grande, decidido por maioria dos representantes na AR, não pode ser espezinhado e tratado como um documento inútil, ou apócrifo, só porque não foi dado o devido acolhimento às opiniões da Liga dos Bombeiros ou porque não caiu nas boas graças do presidente.
 
Na verdade, independentemente de todos os reconhecimentos que são devidos aos bombeiros, estes não deixam de ser parte interessada na análise da comissão aos trágicos acontecimentos de Junho passado. Deveriam ter sido ouvidos, seria importante conhecer o seu testemunho, mas essa falha não desqualifica o relatório, nem autoriza um dos representantes de uma das corporações a ‘partir a loiça’.
 
As incendiárias declarações do presidente da Liga de Bombeiros na sequência da sua (re)eleição, no 43º Congresso,  que se realizou em Fafe, passou como sendo uma aberrante visão do papel dos bombeiros e poderá ter sido bem recebida pelos dirigentes das corporações mas a agressividade verbal e a brutal reivindicação de uma intransigente autonomia e a fuga a qualquer tipo de controlo, estão muito longe de poderem ser entendidas como pacíficas.
A Liga dos Bombeiros Portugueses não tem uma “forma de estar na vida”  link.  É pura e simplesmente uma associação de corporações de bombeiros e compete-lhe representar os seus associados. Quando extravasa esta conceção pisa terrenos estranhos e sujeita-se ao escrutínio público.
 
Na verdade, não se percebe a reivindicação de tanta autonomia quando se solicita “um orçamento com verbas do Estado” link, isto é, funcionalizar as corporações de bombeiros fora de qualquer controlo público (“criação de um comando próprio”).
 
De resto, as ameaças de guerra contra o Governo [“Queira encontra-nos na rua apenas por razões do exercício da nossa função. Somos soldados da paz e da vida mas não temos qualquer receio em fazer guerra a quem puser a nossa paz em causa”…] , proferidas na mesma cerimónia, são mais uma das ‘preciosidades’ desta reativa manifestação de intolerância e oportunismo.
 
As tragédias ocorridas nos incêndios em 2017 causaram muitas vítimas, destruíram profundamente o País e não podem ser ‘colonizadas’ por quem quer que seja. Exigências deste tipo são absolutamente contraditórias com a imagem que os bombeiros disfrutam na sociedade e deixam no devastado terreno um rasto ‘guerrilheiro’ em franco conflito com 'os soldados da paz'. Enveredam pelos sinuosos trilhos de uma guerra sem quartel enxertada à volta de uma tragédia que não trará qualquer benefício aos bombeiros e muito menos ao País.
 
Perante tal despautério só não se entende como o primeiro-ministro (presente na cerimónia) não abandonou intempestivamente a sessão deixando Jaime Marta Soares a falar sozinho.
 
A catilinária de Jaime Marta Soares não merece resposta. O que não é a mesma coisa do que deixar os bombeiros entregues à sua sorte. Ou descurar a proteção das pessoas e bens.

Comentários

Já como presidente da Câmara de Poiares, este cacique que deixou o município com uma dívida imensa per capita, era o André Ventura antecipado do PSD.

Fez pela vida na Câmara e nos bombeiros.
Manuel Galvão disse…
Até porque o rácio Bombeiros-mortos-em-incêndios / número-total-de-mortos-em-incêndios, nesta époda de 2017, é muuuuitíssimo inferior à média dos anos anteriores.

Isto pode querer dizer muita coisa...

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