As eleições de domingo foram o corolário de uma campanha de que a UE esteve arredada para dar lugar ao confronto enfadonho e ataques pessoais generalizados, onde a direita vociferou contra a esquerda e o Governo, e vice-versa, e a esquerda se digladiou, com todos os partidos a observarem a linha de partida para as eleições legislativas.

Sendo as coisas o que são e as eleições o que foram, ficou a dano da ausência de debate sobre as vantagens e inconvenientes do aprofundamento da integração europeia, sem a qual o maior espaço democrático do mundo e a segunda potência económica, com 7% da população e 22% do PIB mundiais, não conseguirá qualquer relevância diplomática a nível mundial nem, sequer, manter a geografia política já corroída com o Brexit.

Vale a pena, no entanto, ponderar alguns ensinamentos dos resultados eleitorais, sem entrar na análise da abstenção que o facto de 70% dos eleitores ignorarem o nome de qualquer candidato e, certamente em maior número, desconhecerem a importância que o futuro Parlamento Europeu assume, talvez justifiquem.

O CDS conseguiu arrastar no descalabro Assunção Cristas, que nunca mais dirá que é a alternativa ao atual PM e não pode aspirar a mais do que líder um jantar de curso; Nuno Melo que terá de refletir se o VOX é um partido democrático; e o cardeal Clemente que, além de pequenos bandos fascistas, apoiou o CDS. Cabe aos católicos e, sobretudo, aos outros bispos, lavarem a nódoa que exige demasiada benzina. O cheiro a sacristia fede.

Santana Lopes, o Menino Guerreiro, destinado a travar grandes batalhas, saiu exangue da primeira briga. Rui Rio, o que teve menos culpa, deixou-se arrastar por cavaquistas e pagará os desmandos de Passos Coelho, Rangel, Filipe Meneses, Marco António e Luís Montenegro que imitaram Cristas e Nuno Melo na incivilidade e deriva reacionária. As tias que o CDS implorou, levadas pela arreata à mesa de voto, faltaram a uns e outros.

Dos derrotados fica um sentimento de injustiça para com João Ferreira, do PCP, e Rui Tavares, do Livre, este muito longe de ser eleito, dois excelentes parlamentares.
Marcelo, inseguro e sem tropas, adiou a cavalgada peronista e remeteu-se a um prudente silêncio, mas não lhe permite a natureza limitar-se às funções presidenciais, e, para já, deixou de ser o regente da orquestra e o comentador de todas as televisões.

António Costa ficou reforçado para repudiar a herança dos que preferiam ser satélites da direita e esta fica sem fôlego para o afrontar com os adversários que incensava.
Merece elogio a dignidade de António José Seguro no silêncio honrado que guardou.

O PS e o BE venceram as redes sociais, os algoritmos e a comunicação social afeta à direita.

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