O dia da Europa – A Europa somos nós

Quando a Europa parece condenada a mergulhar na noite, esquecida do Renascimento, do Iluminismo, da Revolução Francesa e das raízes greco-romanas que lhe moldaram o carácter e a trouxeram à vanguarda da civilização, é altura de celebrarmos os princípios humanistas, democráticos e fraternos que, embora debilitados, ainda subsistem.

Instituído em 1985, o Dia da Europa celebra a proposta do antigo ministro dos Negócios Estrangeiros francês Robert Schuman, que, a 9 de maio de 1950, cinco anos depois do fim da II Guerra Mundial propôs a criação de uma Comunidade do Carvão e do Aço Europeia, precursora da atual União Europeia.

Discordo dos que são contra a União Europeia, reconhecendo-lhes o direito, e discordo igualmente dos que dizem, Europa sim, mas não esta, como se não pudesse haver outra dentro desta, com o urgente aprofundamento da integração económica, social e política, que permitisse reduzir as diferenças entre os países e dentro de cada um deles.

Se a Europa é hoje um espaço de predominância conservadora e neoliberal, com nuvens ainda piores no horizonte, não é culpa da UE, mas dos eleitores de todos os países que a integram e cujo voto devo respeitar pelo melhor que nos resta, a liberdade de expressão, num mundo que parece abdicar dela e da civilização.

Com a saída do Reino Unido, a sua maior potência militar e a segunda economia da UE, na angústia que os movimentos neofascistas lançam, é dever dos europeístas defender as suas convicções, certos de que a desintegração da UE é o caminho mais rápido de novas ditaduras e da irrelevância da Europa, esmagada na luta geoestratégica sino-americana, sem qualquer poder político, económico, militar ou diplomático.

Quero a Europa, cada vez mais unida e integrada, e com o euro como moeda, sem a qual a minha pensão de reforma já me teria reduzido à miséria. Pode ter sido um erro aderir à moeda única, mas seria bem pior sair, era saltar de um comboio em alta velocidade.

Não deixemos que seja Trump a impor as opções comerciais e políticas à Europa, com a Rússia, China, Médio Oriente ou qualquer outro espaço geopolítico ou país. Sejamos nós, europeus, a negociar o nosso destino comum e a defender a Europa.

Na mitologia, Zeus, pai dos deuses, raptou-a para a amar e fecundar. Hoje é o pai dos marginais que a fecunda, com o poder das armas e do dólar, desejoso de a violar.

Pintura . O rapto da Europa (Rubens)

Comentários

e-pá! disse…
CE:

Seria interessante, neste dia comemorativo, discorrer alguma coisa da 'Europa dos Povos' uma ambição justa e natural para o Velho Continente, provavelmente com uma enorme capacidade agregadora, mas esquecida na 'construção' europeia.

Convenhamos que a evolução na recente crise financeira e as medidas que foram impostas a países e cidadãos europeus (como foi o caso de Portugal e dos portugueses) foram uma machadada no caminho comum 'prometido' ou, pelo menos, expectável.
e-pá:

Temo que a machadada tenha inviabilizado o nosso futuro comum, mas o futuro fratricida dos países europeus e dentro de alguns deles seja um pesadelo maior que nos aguarda.

Mensagens populares deste blogue

Divagando sobre barretes e 'experiências'…

26 de agosto – efemérides