EUROPA: – à beira do abismo?…

O futuro da Europa está intimamente ligado ao próximo ato eleitoral para o Parlamento Europeu. Não que este fórum tenha especiais competências na condução da política comum europeia (que de ‘comum’ não tem nada) mas porque será um indício da evolução, ou da involução, que nos espera.
O que se perspetiva é uma nova relação de forças em Estrasburgo onde os nacionalistas aliados aos populistas poderão disfrutar de uma posição de força capaz de adulterar o espírito fundador da UE. E por falar em ‘espírito’ convém esclarecer que, no momento atual, os ventos sopram mais no sentido da desagregação do que da União. Na verdade, ainda não foi possível digerir o 'Brexit'.

A Europa debate-se com múltiplos problemas candentes que passam pela união monetária e fiscal, pela emigração e os refugiados, pelo desenvolvimento (e não só o crescimento económico), pela coesão social, pelas alterações climáticas, pelo ‘inverno’ demográfico, por uma política de defesa e segurança comum, por uma política externa concertada, etc. Um imenso rol de questões que, em Portugal, têm estado arredadas da campanha eleitoral para o Parlamento Europeu.

Por alguma razão a Direita foge a estes problemas e concentra a sua campanha nos incêndios, no caso de Tancos, na crise dos transportes ferroviários e fluviais, na endogamia partidária dos ‘boys’, etc. Aparentemente, a Direita parece não ter programa europeu. Na verdade tem-no. Basta olhar para o grupo que concentra as políticas deste sector (PPE) e tentar perceber o que se passa. Mais, entender como reage aos problemas, como se adapta aos interesses instalados e como cultiva o status quo.

Os candidatos de Direita entretidos no esconder as suas reais intenções a verdade é que os cidadãos europeus já disfrutam de indícios suficientes para perceber o que ameaça vir aí. O facto de o PPE propor para presidente da Comissão Europeia um dirigente europeu oriundo da União Social Cristã bávara, Manfred Weber, diz tudo.
Por outro lado, a situação económica e social europeia vive dias difíceis com a estagnação económica, os problemas levantados com a globalização e o colapso da 'solidariedade ocidental'.
A ‘dependência atlantista’ com largas dezenas de anos revela-se, neste momento, altamente perniciosa. Há o risco de ‘japonização’ do velho Continente e a entrada no marasmo, na dependência e na decadência.

A 'locomotiva' da Europa (Alemanha) fraqueja no terreno do crescimento económico e, como historicamente temos experiência, serão ativados mecanismos de compensação que favorecerão os países do Norte e Centro da Europa. Ninguém melhor do que o Sr. Manfred Weber está preparado para ditar as 'soluções do costume': austeridade para os outros. As suas posições públicas, enquanto dirigente do PPE, relativamente às sanções a Portugal (‘força máxima’) link e a oposição em relação à renegociação da dívida grega (que classificou de ‘dececionantelink) deveriam bastar para ‘acordar’ os incautos cidadãos da Europa.
 
Mas o que vemos na campanha eleitoral em curso?
 
A concentração dos temas em discussão nos problemas paroquiais, alguns importantes, sem dúvida, mas de outro âmbito ou, pior, extemporâneos, já que são o arrastado exorcismo do empobrecimento que a Direita aplicou ao País, como solução de uma crise, em consonância com uma certa Europa (a do PPE) que se esquece de apontar. Destruir os equilíbrios financeiros, económicos e sociais foi rápido mas reconstruir será sempre mais moroso e penoso. A devolução de rendimentos aos portugueses e portuguesas nunca é julgada como uma opção política fundamental para a recuperação nacional. Estamos perante aqueles que desejavam que o esforço do tão difícil e doloroso ‘reajustamento’ - que continuam por aí a dar lições de patriotismo - fosse endossado aos ‘mercados’, ao estímulo à competitividade, ao empreendedorismo, etc., e não aos cidadãos, enquanto sujeitos últimos  e concretos de todas as opções políticas.
 
Paralelamente - e já no limiar do contexto europeu - verifica-se o desfile de reivindicações de aquisição e distribuição de fundos (europeus) perante a notória incapacidade política de, primeiro, construir um orçamento comunitário solidário, onde a equidade e justiça social pontifiquem. Depois, a ocultação sistemática (a ausência?) de um plano estratégico de desenvolvimento nacional e europeu, pelo menos a médio prazo, que ultrapasse as metas do mero crescimento do PIB (e das exportações), mostra a dimensão do improviso e o oportunismo de algumas das candidaturas, onde a redistribuição da riqueza é um pormenor de somenos importância.
 
Igualmente, o esgotamento da retórica em frases feitas, conceitos balofos e ideias velhas e caducas e, ainda, inverosímeis histórias sobre hipotéticos bons desempenhos (declaradamente sem resultados palpáveis) é a cansativa tónica da Direita que domina a campanha eleitoral em curso.
 
Falta pouco mais de 1 semana para as eleições. E o que há de concreto é uma União Europeia que, em termos de consistência interna, de desenvolvimento, de coesão social e influência política em termos globais, vive um dos períodos mais difíceis desde a sua fundação.
 
A crise política (à sombra do advento dos nacionalismos de extrema-direita) está notoriamente a antecipar-se à económica o que poderá representar um quadro muito próximo de uma catástrofe anunciada já que vai precipitar os acontecimentos e dificultar as respostas, isto é, corremos o risco de  assistir  ao desenrolar de um filme de terror, em modo de ‘reprise’, quando não será indiferente quem está ao comando da ‘nau europeia’ em Bruxelas, Frankfurt e Estrasburgo.
Por alguma razão a Direita foge como o diabo da cruz (o diabo é sempre um instrumento punitivo da Direita) de mencionar o seu objetivo último - colocar Manfred Weber na presidência da CE - e já fez deslocar o debate institucional internacional para os candidatos à presidência da Comissão Europeia link, que, ao que suponho, teve em Portugal um share baixíssimo.
 
Uma semana é muito pouco tempo para inflectir o curso da campanha mas, de futuro, poderemos não disfrutar de outras oportunidades. É este o drama abissal (com pinceladas de ‘suicidário’).

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