A Europa e as ameaças externas

A proposta de um plano de defesa europeu autónomo teve a ameaça dos EUA. Washington acusou Bruxelas de violar compromissos adquiridos através da NATO e adverte que põe em perigo décadas de colaboração militar.

A carta, de 1 de maio, a que teve acesso EL PAÍS – segundo a edição de hoje –, “está cheia de ameaças, mais ou menos veladas, de possíveis represálias políticas e comerciais se Bruxelas mantiver a sua intenção de desenvolver projetos europeus de armamento sem apenas contar com países terceiros, nem sequer com os EUA”.

Com a política externa errática e belicosa de Trump, que quebra todos os compromissos internacionais, v.g. o acordo nuclear com o Irão e subversão dos acordos com diversos países, num perigoso braço de ferro comercial com a China, é altura de a UE conciliar o apoio dos seus membros quando o Brexit a debilita.
   
A reação do Império deve-se à criação do Fundo Europeu de Defesa dotado com 13.000 milhões de euros para o período 2021-2027 tendo em vista desenvolver 34 projetos de armamento, por 25 países da UE, cuja aprovação foi submetida ao Parlamento Europeu.

As ameaças, subscritas pelo governo de Donald Trump, constituem a mais despudorada chantagem à soberania da UE depois de ter tentado impedir as negociações com a China para a aquisição da tecnologia 5G, na rede móvel das comunicações, onde os EUA estão ainda atrasados.

Em período de campanha eleitoral para o Parlamento Europeu, com as exóticas eleições no RU, país que está de saída, é altura de os partidos dizerem o que pensam, em vez de procurarem conquistar votos ocultando a posição quanto aos grandes desafios europeus.

Defender uma unidade de proteção civil europeia, que o CDS pretende domiciliada em Portugal e negar a cobrança de um imposto europeu, é uma desonestidade que Nuno Melo, ainda em modo VOX, tem a desfaçatez de defender, mas esse é o padrão comum de todos os partidos.

Marinho Pinto, em quem não votarei, apesar da estima pessoal, é o único que defende as Forças Armadas comuns para a UE, proposta com que concordo, e defendo igualmente a harmonia fiscal, a diplomacia comum e a progressiva integração política.

Não quero regressar aos tempos salazaristas do “orgulhosamente só” nem ficar refém de blocos desprezem os direitos humanos e divirjam do ethos civilizacional que molda a Europa de que me sinto cidadão.

Desafio os compatriotas a refletirem sobre o risco de, em vez do Parlamento Europeu, com decisões mais escrutinadas e transparentes do que as dos parlamentos nacionais, termos de nos submeter a Pequim, Moscovo ou Washington.

Comentários

Manuel Galvão disse…
Business as usual... Não interessa aos EUA que um novo produtor venha competir nesse mercado. Isso faz baixar as margens comerciais.... O ideal para os EUA seria que a Rússia, a Alemanha, o Brasil, a China deixassem de produzir também.
e-pá! disse…
Os candidatos a deputados ao Parlamento Europeu tem evitado concentrar-se sobre o futuro (sombrio) da Europa.
Tem revivido, nesta campanha eleitoral até à náusea, o drama dos incêndios de 2017, da crise financeira de 2008, as endogamias partidárias (tão velhas quanto o caciquismo), o problema dos professores, etc. O que se está a fazer é meter o Rossio na Betesga ou a recorrente visão paroquial do Mundo que tanto gostamos.
O 'ensanduichamento' da Europa entre um Oriente emergente e os EUA estrebuchantes, mas ansiosos de prolongar uma hegemonia decrépita, tem como consequência directa o desaparecimento da Europa enquanto entidade político-cultural.
A pergunta que ocorre é de que vale apostar num fogo fátuo de mobilar um edifício em ruínas?
Costumo dizer (no café!), à laia de desabafo, que se a Europa hoje vivesse uma crise com os contornos da década de 30-40 (com a agressividade nazi-fascista já novamente em incubação) e a civilização dita ocidental estivesse em perigo - como esteve - os EUA, tal como existem hoje (era Trump) não viriam - como vieram depois de Pearl Harbour - em socorro do Ocidente. Esta a real situação em que nos encontramos (com o sem NATO).
A defesa da Europa (civil, militar, económica, financeira, social e cultural) passa por esta dramática e assustadora noção.

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