Paulo Mota Pinto (PMP) – sindicalista e revolucionário

Se há um paradigma de oportunismo político, Paulo Mota Pinto é um exemplo quase perfeito.

Após a promiscuidade dos serviços secretos com a Ongoing, protagonizada por Silva Carvalho, a AR, impedida de averiguar, ao abrigo do segredo de Estado, no dia 20 de junho de 2014, o plenário votou, de manhã, a lei que coíbe fortemente o trânsito direto de agentes dos serviços de informação para o sector privado, com o voto do deputado do PSD, Paulo Mota Pinto. 

Na tarde desse dia, o ex-conselheiro do TC e deputado do PSD, aceitou tornar-se CEO do BES, sendo presidente do Conselho de Fiscalização do Sistema de Informações da República Portuguesa (CFSIRP). A queda em desgraça de Ricardo Salgado impediu-o de disfrutar a avença e iniciar-se na banca. Perdeu uma «pipa de massa», na pitoresca expressão de outra referência ética, especialista em armas químicas, Durão Barroso.

Como se nada tivesse acontecido, o homem de confiança de Proença de Carvalho e de Ricardo Salgado, voltou às funções que, em boa verdade, não abandonou. Ao presidente do CFSIRP bastou-lhe «cancelar o cancelamento das atividades». O aspirante a banqueiro, «cancelando todas as atividades no âmbito destas funções», considerava-se sem problemas de consciência. Confrontado pela Lusa, PMP tinha afirmado que, «nesse caso [e só nesse], renunciará aos cargos de deputado e de fiscalizador das secretas».
Fui repescar estes factos, ao ver o político destacado do PSD a defender, de forma calorosa, os sindicatos de geração espontânea.

PMP, sob o título “O medo das greves livres”, no artigo semanal no JN de 25 de abril deste ano, surpreendeu com a calorosa defesa dos sindicatos alheios à influência partidária, e a satisfação pela maior capacidade reivindicativa, numa alusão clara à greve cirúrgica dos enfermeiros e à do Sindicato Nacional de Motoristas de Matérias Perigosas.

Quem diria que os trabalhadores têm no académico e político o paladino dos seus interesses de classe!?

É eloquente esta frase de PMP: «O medo da greve e do movimento sindical livre não é, na realidade, mais do que o medo de perda do poder sobre os interesses dos trabalhadores, e da possibilidade de os instrumentalizar para os seus próprios fins políticos e partidários».

Com oito arrobas de ética e fervor revolucionário, o passado do apoiante não garante o futuro da coerência solidária com a classe operária. Parece mais um colete amarelo XXXL.

No dia de ontem, PMP foi a melhor metáfora da Direita.

Comentários

vitor disse…
Ainda na semana passada na televisão garantia que a lei de bases da saúde ainda em vigor foi aprovada com um amplo consenso parlamentar. E era mesmo ignorância. Que é sobretudo o que melhor caracteriza este tipo de parasitas.

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