O novo governo dos Açores – A aritmética e o pudor
PS – 25 ; PSD – 21 ; CDS – 3 ; Ch – 2 ; BE – 2 ; PPM – 2 ; IL – 1 ; PAN – 1
A alternância democrática é uma exigência do regime em que
me revejo; e a integração de partidos que combatem a democracia, um ultraje.
Não podendo Rui Rio reconduzir o PSD à sua matriz fundadora
rendeu-se ao que dele fizeram Cavaco e Passos Coelho. O PSD, que aprovou a CRP,
um partido fundador do regime democrático, abdicou da a dignidade e da defesa
da democracia.
A pressa do regresso ao poder nos Açores levou todos os partidos
da direita democrática a cometer a indignidade de integrarem na normalidade um
partido fascista. E não havia necessidade de se sujeitarem a tal humilhação, a
tão despudorada cumplicidade, escrita e assinada.
Olho para os números e vejo que ao PS, admitindo que o BE o
apoiava, não conseguiria a maioria (ainda há quem pense que o PAN é um partido
de esquerda). Teria sempre 28 votos contra.
Perante o impasse, o segundo partido (PSD) seria convidado a
formar governo. Teria 26 votos e aqui, sem o nojo do acordo, deixava ao partido
fascista a decisão.
Seria difícil que esse furúnculo não fosse obrigado a apoiar
o PSD sem nada receber em troca. Não lhe era favorável recusar um governo de
direita ou correr o risco de provocar novas eleições.
A democracia é a grade perdedora, mas o PSD é, de todos os
partidos, o que mais perde com a capitulação democrática, na honra e nos votos.
O crescimento da hidra vai buscar os votos que o cordão sanitário lhe negaria.
Os partidos de direita começaram nos Açores a sua viagem
para o opróbrio e Rui Rio para o descrédito.
A grande surpresa foi a ausência de qualquer crítica à
qualidade da governação do PS e aos programas do PS e do PSD, parecendo que as
eleições são um mero instrumento de conquista do poder pelo clube de que se
gosta ou contra o que se detesta.
Apostila – As minhas reiteradas críticas aos excessos autonómicos e a animosidade aos órgãos faraónicos dos Açores e Madeira levaram-me a acompanhar com menor atenção a formação do atual governo dos Açores. Se, por desconhecimento, cometi algum erro de apreciação, decerto que alguns leitores mo apontarão.
Comentários
Os ventos sopram para o lado da direita, e não é por acaso. As pessoas descreditam na democracia, isto é, naquilo em que a democracia se transformou. Incapaz de combater a corrupção, incapaz de cobrar os impostos que a lei estabelece, incapaz de por o interesse público à frente do interesse privado; Ocultação de lucros usando offshore, impossibilidade de cobrar impostos às empresas que mais lucros têm.
O resultado é dramático; declínio do SNS, diminuição das prestações sociais, e necessidade de aumento sucessivo de impostos, para fazer face à quebra sucessiva de receitas do Estado.
É neste pano de fundo que se criam condições para o aparecimento do populismo com seus argumentos falaciosos; "Os políticos são corruptos", " gastam o dinheiro dos impostos com o ciganos", "deixam entrar estrangeiros com religião esquisita e que só vêm viver à nossa custa", "aumentam os impostos para se "encherem"".
As pessoas tendem a acreditar naqueles que criticam políticas más, suas conhecidas.
Dissecar à lupa o que aconteceu nos Açores é estudar de perto a árvore e esquecer a floreta que a rodeia.