A reforma das Forças Armadas (FA) e a emersão da múmia Cavaco Silva
Tenho dúvidas sobre a bondade da reforma que o PS e o PSD acordaram aprovar, dada a tradicional inaptidão do PS para lidar com as FA e a desconfiança que nutro pelo PSD, mas, independentemente da decisão, apraz-me registar o desprezo que o PSD nutre pelo seu antigo líder e feliz contemplado com a vivenda Gaivota Azul, na Praia da Coelha.
Cavaco Silva, um salazarista que deve tudo à democracia e
que tão pouco lhe deu, não é figura simpática. É um ativo tóxico, alguém que se
tornou patinho feio, até no PSD, ao serviço do qual se propôs sacrificar a CRP
para perpetuar Passos Coelho no poder, ao arrepio da vontade da AR.
Há neste homem azedo, nesta figura que os acasos da sorte
içaram aos mais altos cargos do Estado, um ódio visceral a tudo o que se afasta
da sua matriz conservadora, e a todos os que se colocam à sua esquerda. Não tem
adversários, só vê inimigos. Nunca foi um estadista, foi sempre um chefe de
fação, sectário, vingativo e videirinho, no Estado e na vida privada. É o único
ex-PR civil que terminou a vida política abandonado, sem cargo internacional,
isolado, a escrever Roteiros que ninguém lê e a destilar fel que já nem os
apaniguados suportam.
A reforma das Forças Armadas foi o pretexto para uma
vingança, contra o PS e o líder do seu partido, não porque discordasse da
submissão à Nato, porque quis fingir-se vivo, a combater o PS e a demolir o
líder do PSD, onde preferia o venal Passos Coelho, mais próximo da sua estatura
ética e intelectual, do que de Rui Rio, sem mácula reputacional.
Querendo atacar António Costa e condicionar Rui Rio,
esquecido das últimas vezes em que foi notícia, pela deselegância em não
cumprimentar o PR na cerimónia de posse do segundo mandato e na ausência
previsível à celebração do 25 de Abril na AR, ressurgiu no espaço mediático a
considerar "chocante" e "um erro grave" o PSD aprovar
reforma das Forças Armadas, proposta pelo Governo.
Não contava com o desprezo generalizado do espetro
partidário, com exceção do PSD, e este para o zurzir através do seu coordenador
para a defesa nacional, Ângelo Correia, um seu antigo ministro com pensamento e
negócios próprios.
Ângelo Correia pediu mesmo ao antigo PR e PM, que "não
fale" por ser "uma pessoa que desta área não sabe nada”, e
aconselhou-o a fazer um pequeno esforço para se ajudar a si próprio, que é
estar calado quando não sabe do que está a falar. E insistiu, na TVI, que, “neste
caso não tem qualquer sentido tático nem técnico nem político, são palavras de
uma pessoa que desta área não sabe nada”.
Haverá quem pense que é um sábio noutras áreas, mas, quando
o seu próprio partido o manda calar, é porque pretende pôr uma rolha no frasco
de veneno.
Triste fim!
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