A novela mexicana do OE e a vertigem mediática

Não sei se a macroeconomia faz parte de alguma ideologia exotérica, quiçá, integrante da Teologia, ‘ciência’ que, por lhe faltar método e objeto, um ateu não enxerga.

Estou cansado de jogos florais e cantigas de escárnio e maldizer, da volúpia de todos os que pretendem conquistar votos à mesa do Orçamento, alheios à dimensão da dívida e aos encargos futuros das gerações que nos sucederem.

Não acuso nenhum partido em particular, e sinto que a simpatia que adquiriram quando se entenderam é delapidada com o cansaço e a ansiedade com que enervam o eleitorado. O que está em causa não é percetível ao comum dos eleitores, e a estridência com que se combatem os amigos é o ruído que afasta os apoiantes.

Numa aliança, com cedências mútuas nos limites possíveis, todos ganham. Na disputa, com a corda esticada, todos se enforcam.

O caminho que o PR ajudou a envenenar não tem regresso e muitos começam a sentir que é preferível a queda do Governo a um Orçamento incoerente, negociado ao sabor de apoios contraditórios, de compromissos impossíveis de cumprir, com um Governo a ser incinerado até a direita estar em condições de ganhar as eleições.

O chumbo do OE/2023 e a queda do Governo serão desastrosos para o país, mas não há quem resista aos ruídos na praça pública e aos palpites de brigadas de comentadores que desfilam nas televisões, rádio e jornais impressos e virtuais.

Dificilmente esta direita podia imaginar tão preciosos aliados numa pugna que se exibe nas televisões, no espetáculo que diminui os atores em palco e os partidos em contenda.

Ficam muitas feridas para lamber, seja qual for o desfecho, e muitos ressentimentos que se criam entre apoiantes, cada um a acusar os outros, todos a lamentar o espetáculo e a indiferença com que parecem encarar a incerteza sanitária, económica e energética.

Resta imaginar se alguém está a pensar no aquecimento global, na crise dos refugiados e no futuro das gerações a quem queremos devorar hoje o seu almoço de amanhã.

Não continuem a assustar os eleitores porque o medo faz ricochete.

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