Voando sobre um ninho de cucos – 4 – Nuno Melo (CDS)

Na observação da ornitologia política a que me propus, antes de regressar aos pássaros de maior porte, vale a pena depenar um pardal da direita dura, Nuno Melo, que pretende substituir o atual presidente da comissão liquidatária, Francisco Rodrigues dos Santos.

O deputado profissional, em Lisboa e Bruxelas, sem possibilidade de euro-deputar, quer deputar em Lisboa, sendo obrigado a disputar a liderança do clube, o CDS, ao Chicão.

Nuno Melo é uma ave canora da capoeira da direita tesa, capturada por Cavaco, Passos Coelho e Paulo Portas, onde Cavaco era considerado um intelectual e Passos Coelho estadista. Pontificavam aí os Drs. Relvas, Marco António e Nuno Melo, quando Cavaco entrou em defunção política, Portas no mundo dos negócios, e Passos Coelho na cátedra universitária que lhe arranjou Sousa Lara, ex-censor de Saramago e futuro porta-voz do partido fascista, e a D. Cristas geria o CDS. Um bando de aves sonoras!

Nuno Melo, independente de direita, entre Salazar e Rolão Preto, em tamanho reduzido, considera o Chicão com falta de maturidade democrática, ele que viu na referência ética e espiritual do ELP e MDLP, o cónego Melo, “uma personalidade com um papel ativo, à sua escala, para a implantação da República tal como hoje (2008) a vivemos”, e que, lastimoso, propôs um voto de pesar à AR, quando do passamento do explosivo clérigo.

O antigo pajem de Paulo Portas viu aprovada contra si uma moção de censura proposta pela direção de Ribeiro e Castro. Nuno Melo voou sempre à direita do seu bando.

Este pardal ficou mudo quando o CDS foi expulso do PPE por conduta antidemocrática e quando a fotografia do fundador, Freitas do Amaral, foi retirada do Largo do Caldas, mas não se coibiu de afirmar que “o VOX não é um partido de extrema-direita” quando logrou obter deputados na Andaluzia com um decálogo programático fascista.

Santana Lopes e Nuno Melo eram os delfins quando Rui Rio, no PSD, venceu a tralha cavaquista e Francisco R. dos Santos, no CDS, foi o insólito herdeiro dos despojos da D. Cristas.

Perante as lutas intestinas da direita, inconformado por não estar mais à direita, nem ter credibilidade eleitoral, para apagar o incêndio que lavrava nas suas hostes, teve de sair dos bastidores o incendiário-mor, D. Marcelo, que agora dirige as operações contra o PS, para já, e contra toda a esquerda no futuro próximo.


Nuno Melo tem grandes hipóteses de voar, muito baixinho, que a envergadura eleitoral não lhe augura grandes alturas, e é o preferido do regente da orquestra que, ansioso, teve de fazer uma OPA amigável dos partidos da direita democrática.

Eanes tentou lançar um partido novo, a D. Marcelo bastou-lhe falar aos microfones para lhe caírem 2 no regaço. Nuno Melo é o ornamento do PSD à espera de entrar para a AR.

Começa a ser intolerável a conduta do PR em relação aos partidos de esquerda. Não lhe permite a fogosidade nem a ambição manter-se na área das suas competências e evitar a intriga e a chantagem, sobre os partidos de esquerda e sobre o eleitorado.

Para já, foi determinante na candidatura de Paulo Rangel e do irrelevante Nuno Melo, mas, enquanto patrocina as aves referidas, devia recolher as asas e as garras.

Comentários

Jaime Santos disse…
Aves canoras e sonoras, diria eu. Um bando de passarões!

E é este bando de passarões que a Esquerda, com mais fogosidade (BE) ou mais contenção (PCP-PEV) se arrisca devolver ao poder, com as ameaças de chumbo do OE 2022.

Naturalmente que os deputados do BE e do PCP-PEV têm toda a legitimidade, à luz dos seus princípios e da leitura da situação política presente, de votar contra o OE e com isso mergulharem o País numa crise política, da qual só sairemos com eleições, MRS dixit.

E que nessas eleições António Costa, pois será ele a disputá-las e não outro, como quereria provavelmente essa Esquerda, se ganhar sem maioria absoluta (na melhor das hipóteses), se arrisca a uma vitória de Pirro e a uma aliança com o PSD, pois que a Geringonça, que já estava em defunção desde 2019, também por culpa do PM, mas não apenas dele, sobretudo por causa das propostas maximalistas do BE ao propor um acordo escrito que PCP não acompanharia, ficaria definitivamente enterrada por muitos e bons anos.

E, como se sabe, não há divórcios políticos sem acrimônia e acusações de parte a parte, o que só serviria a Direita.

E em caso de vitória da dita Direita, teríamos um Governo do 'suave' Paulo Rangel, provavelmente tolerado pelo Chega! na AR, com a Esquerda em desalinho e a olhar para o seu próprio umbigo, vide acima.

Já sei que Louçã et al gritarão que proclamar tal coisa não passa de chantagem, sucede que dizer o óbvio inelutável representa apenas e tão só isso, por muito que a verdade seja desagradável aos ouvidos da nossa Esquerda.

Há uma coisa que BE e PCP-PEV continuam a não compreender ao fim de tantos anos. Os eleitores do PS não andam a ser enganados por centristas como Mário Soares, António Guterres, José Sócrates ou António Costa. Os eleitores do PS revêem-se no centrismo destes líderes ganhadores de eleições. Por isso é que eles as ganharam.

Se quisessem políticas mais à Esquerda, votariam no BE ou no PCP-PEV e estes Partidos teriam ganho as eleições, com mandato para denunciar o tratado orçamental, tirar Portugal do Euro e da UE e fazer disparar a dívida e implementar a Modern Monetary Theory ou lá como se chama, ou outras lindas ideias que nunca saíram do papel.

Só que nunca ganharam. E portanto, dado que tal como o BE e PCP-PEV têm legitimidade para dizer que defendem os interesses dos seus eleitores, o PS pode dizer o mesmo dos seus, que representam mais do dobro da soma do resto da Esquerda toda junta, as negociações devem fazer-se respeitando o princípio de que PS governa com o seu programa e não com o dos outros.

Por isso, chantagem é não afirmar o óbvio e sim esperar chegar a uma negociação e ter todas as suas propostas aceites pelo parceiro. Isso não é uma negociação e sim uma capitulação.

Sempre pensei que é preferível obter-se 70%, 50% ou vá lá, 30% do que se quer do que 100% do que se rejeita. Mas se calhar isso sou só eu que não percebo nada de política.

Acresce claro que na situação dramática em que o País se encontra não me parece que os eleitores vissem com bons olhos a falta de patriotismo que representa mergulhar o País numa crise política, em cima da crise social e económica...

Por isso, será que a Esquerda quer mesmo um émulo de Passos Coelho (acompanhado por Nuno Melo e porventura André Ventura) na residência oficial do Primeiro-Ministro?

Olhem apenas para o que se passa em França ou no Reino Unido, como lindo resultado de uma Esquerda desunida... É isto mesmo que querem?
Jaime Santos,

Subscrevo o seu lúcido texto. E não tenho ligações partidárias.

Um abraço.

CE
Jaime Santos disse…
Eu também não tenho, Carlos Esperança, nem nunca quis. Teria que me calar porque considero que pertencer a um Partido obriga a uma dose de lealdade partidária e isso implica por vezes recitar uma cassete.

Simplesmente, voto no PS porque não me revejo no programa de mais nenhum Partido. Continua a ser, para mim, o Partido da Liberdade e da Democracia, tal como eu as concebo, imperfeitas e sempre incompletas, com o Indivíduo ao centro.

Voto no PS mesmo quando ele não merece, o que aliás é quase sempre. Só que eu sou daqueles eleitores que antes de me perguntar o que quero, pergunto-me primeiro o que não quero.

E não quero certamente o retorno desta Direita Passista e ressabiada ao Poder. Por isso peço a todos os Partidos, a começar pelo PS, um esforço de contenção enquanto duram as negociações e depois um esforço de conciliação.

Como alguém disse uma vez, o melhor acordo é aquele em que todas as partes ficam descontentes...

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