Eleições legislativas – Os irritantes debates partidários

O cumprimento do calendário das eleições, que os partidos e o PR podiam ter evitado, obrigaram ao rali de debates, raramente atraentes, num modelo que permite a populistas e demagogos satisfazer nichos de mercado eleitoral prejudiciais à democracia.

Há na liturgia eleitoral situações que incomodam particularmente, sendo irrelevantes as gafes, que apenas divertem na razão direta da importância do líder que as comete.

Irrita o modelo, talvez incontornável, para aviar a vastidão de partidos. É impossível em 20 minutos defender ideias e, juntamente, desmontar mentiras de quem apenas pretende a subversão da democracia e a capitalização do ódio e do ressentimento que 48 anos de democracia não erradicaram. São fãs da ditadura que voltam, fascistas que renascem.

Irritam os comentadores que vêm explicar aos telespetadores o que acabaram de ver e ouvir no debate que findou, quase sempre profissionais avençados, a distorcerem o que foi dito e a imaginarem estúpidos os telespetadores que não mudaram logo de canal.

Irrita a apreciação futebolística dos debates pelos comentadores, a atribuírem pontuação aos políticos, numa atrevida irreverência professoral de imitação neo-marcelista.

Irritam os jornais, claramente direitistas, sem falar nos assumidamente reacionários, que vêm depois organizar a opinião de quem não assiste e acredita que a mentira impressa é uma verdade incontestável.

Mas, do que se ouve e vê, do folclore que, apesar de tudo, faz parte da democracia, fica a desolação de ver um arruaceiro criado na madraça do Dr. Relvas e do ora catedrático Passos Coelho, líder fascista, a ser tratado como pessoa normal e cidadão respeitável.

A normalização do fascismo e a humanização do fascista é a pior herança que fica desta campanha eleitoral, em tempo de pandemia e ambiente de incerteza, perante ameaças de crise sanitária, política, económica e financeira, a nível global, enquanto a paz fragiliza, a bomba demográfica explode e o aquecimento global acelera.

O resto, a luta entre os partidos faz parte da democracia, que, sendo o que é, é ainda um regime que permite o pluralismo partidário e as divergências ideológicas.

Viva a democracia!

E cada um assuma a responsabilidade das consequências do seu voto ou da abstenção.

Ponte Europa / Sorumbático

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