Mário Soares – 5.º aniversário da sua morte (Texto atualizado)
As circunstâncias fazem mais pelos
homens do que estes fazem por elas, mas são os homens (homens e mulheres) de
exceção que moldam o futuro e marcam a História.
Recordar quem melhor encarnou as
grandezas e misérias do povo que somos, é prestar homenagem ao maior vulto
desta segunda República, da democracia que o MFA nos ofereceu numa madrugada de
Abril.
Há 48 anos eram de exceção os
Capitães de Abril, e de exceção foram os quatro líderes civis que emergiram da
Revolução que os militares fizeram. E moldaram o regime.
Raramente um único país consegue
ter, em simultâneo, homens da dimensão de Álvaro Cunhal, Mário Soares, Sá
Carneiro e Freitas do Amaral, na diversidade das suas opções políticas, dos
interesses de classe que representaram e dos projetos que serviram, todos
dignos de admiração, para lá do julgamento pessoal das opções políticas de cada
um.
Com a morte de Mário Soares, só
ficou Freitas do Amaral, homem sábio que os ignaros acusam de inconstante,
quando foi a sua coerência a afastar dele o partido que fundou e agora em
estado terminal.
As circunstâncias e o homem fizeram
de Soares o principal obreiro civil da democracia que os militares de Abril
fundaram. Foi o mais pragmático na interpretação da vontade dos portugueses
quanto ao modelo de regime que quiseram e, nisso, pôs a determinação, coragem
física e intelectual, na entrega que prolongou até ao fim, tal como o havia
feito na resistência à ditadura.
Recorde-se que foi preso 13 vezes
pela PIDE, deportado para São Tomé, por ordem de Salazar e, depois, exilado por
ordem de Marcelo Caetano.
O falecimento de Mário Soares
deixou o sabor amargo de um antifascista que partiu, do lutador que nunca
desistiu, de um vulto de rara dimensão cultural, cívica e política.
Deixou, como legado, o exemplo de
cidadania e a grandeza de preferir a derrota à fuga ao combate, certo de que os
vencedores e vencidos têm em comum a coragem de lutar.
Tombou um gigante e o patriota de
quem tantas vezes discordei, quase sempre do lado errado. Faz hoje 5 anos.
Obrigado, Mário Soares.
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