"Homens de Pouca Fé"
O título desta crónica refere uma frase muito usada nas religiões cristãs, é atribuída a Jesus Cristo e repetida várias vezes no Novo Testamento (Mateus 6:30, 8;26, 14;31, 16;8 e Lucas 12;28). Também é referida nas conversas de religiosos em várias circunstâncias; e o fundamentalista, fascista e católico espanhol Escrivá de Balaguer, inventor da Opus Dei, usou-a para intimidar os crentes e criar uma elite social, económica e política.
Os ateus, enquanto gente sem fé na divindade, não pretendem promover, já, agora e aqui, o enterramento da crença em Deus. Ninguém tem essa intenção, até porque nem tal coisa é possível porque são bem profundas as raízes do divino na estrutura da nossa mente. A religiosidade é intrínseca ao ser humano, e foi essa a razão que conduziu o nosso raciocínio à criação de deuses.
O Homem só criou deuses porque sentiu necessidade deles... nós só criamos aquilo de que necessitamos. Se criamos divindades foi porque precisamos delas... e contra isto, batatas!... Depois criamos o "Deus único" à "nossa imagem e semelhança"... porque somos importantes!...
É curioso constatar que o Deus único foi criado pelos Hebreus, povo do deserto, porque nas suas sacolas de nómadas não cabiam tantos deuses, nem tinham terra onde pudessem erigir tantos templos, como tinham os seus vizinhos egípcios sedentários. Os nómadas são gente prática pela constante movimentação a que se obrigam, e um único Deus resolvia os seus problemas de religiosidade e fé!
Esta certeza fatal (a de o Homem só criar aquilo de que precisa) arruma qualquer discussão que pretenda destruir o sentimento da crença em Deus, porque a religiosidade é um atributo do nosso cérebro que tem características únicas entre todas as formas de vida que animam o planeta.
A figura abstracta de Deus é produto de uma inteligência superior, e contra isto não se deve lutar irracionalmente... mas é sempre possível alertar os espíritos religiosos para a verdade da invenção de Deus, cujo conceito criamos. Não há qualquer realidade divina fora da nossa mente.
O conceito de Deus sempre foi aproveitado pelos vários poderes na exploração do sentimento da religiosidade que, naturalmente, existe no cérebro de todos nós. Quanto mais frágil for o raciocínio de cada um, tanto mais fácil será a exploração da nossa crença e da nossa fé por quem faz da Religião modo de vida e dela tira muito mais do que o seu sustento diário: também retira as mordomias sociais em várias escalas, até à exploração abusiva!
Basta olharmos a nossa História Medieval e vermos o poder da Igreja no controle que fazia da mente dos povos crentes e tementes à ira divina... a nossa submissão aos crimes da Igreja Católica no tempo da Inquisição, quando o Povo definhava e o Clero e a Nobreza viviam na opulência.
Se olharmos para a América Latina com olhos críticos, podemos confirmar, ainda hoje, que quanto mais religiosos forem os povos, mais explorados são pelos diversos poderes que vivem à custa das várias pobrezas: a intelectual, a social e todas as outras.
Se lançarmos o nosso olhar para os países do norte da Europa, com elevada percentagem de agnósticos e ateus, concluímos que o estatuto social de cada um é mais elevado, porque se alicerçam num nível superior de raciocínio, não se submetendo à divindade do modo como se submetem os latinos.
A “sopa dos pobres”, infelizmente tão usada entre nós (digo "infelizmente"... por, socialmente, ainda ser necessária), e a pedincha pública por organizações que vivem da caridade, são factos sociais que só se radicam entre os povos explorados pelos donos do dinheiro, e têm o apoio de governos miseráveis que permitem a manutenção deste estado das coisas, submetendo-se (e submetendo-nos) a interesses económicos de uma minoria que nos explora.
Só se pode almejar um nível social de superior qualidade se se promover a excelência do raciocínio e da formação dos cidadãos, processo que começa nos bancos da escola. E isso obriga a uma prática educativa e social de gerações, promovida por políticos honestos e verdadeiramente interessados no futuro de toda a gente (e não no deles próprios)... o que, entre nós… ainda é mito... tal como a ideia de Deus...
(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)
Onofre Varela
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