União Europeia (UE) – O dia da Europa. Esta é a minha Europa
Esta é a minha Europa, não como a queria, mas a que resta do sonho visionário, daquele projeto singular, nascido no rescaldo da última Guerra Mundial, após 60 ou 70 milhões de mortes e do maior desastre de origem humana de toda a História.
O Dia da Europa, criado em 1985, celebra a proposta do
antigo ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Robert Schuman, que, a 9 de
maio de 1950, cinco anos depois do fim da II Guerra Mundial propôs a criação de
uma Comunidade do Carvão e do Aço Europeia, precursora da União Europeia.
Quem tem memória da ditadura e do atraso do Portugal
salazarista não esquece o que deve à UE que hoje celebra o dia das Europa em ambiente
lúgubre, bem diferente do que merecia, a estimular uma guerra nas suas fronteiras
em vez de lutar pela paz.
A convicção de que a UE é um espaço civilizacional de que
nos devemos orgulhar, fator de paz e de progresso, oásis democrático onde a
justiça social e a laicidade dos Estados devem ser aprofundadas, tornou-me um
europeísta militante, grato pela notável postura deste espaço civilizacional
onde o aprofundamento da integração económica, social e política é vital para a
sobrevivência coletiva.
Quando a Europa parece condenada a mergulhar na noite,
esquecida do Renascimento, do Iluminismo, da Revolução Francesa e das raízes
greco-romanas que lhe moldaram o carácter e a trouxeram à vanguarda da
civilização, é altura de celebrarmos os princípios humanistas, democráticos e
fraternos que, embora ameaçados, temos de exigir.
Talvez por isso, são tão dilacerantes os dias que correm num
ambiente prenunciador de uma catástrofe que pode ser a última. Ouvem-se tambores
da guerra e o apelo às armas no território europeu quando devíamos estar a
enviar vacinas para os povos de África.
Não podemos culpar a UE de ser um espaço conservador e
neoliberal, com sinais ainda piores no horizonte. A culpa é dos eleitores dos
países que a integram e cujo voto se respeita pelo melhor que nos resta, a
democracia liberal e a liberdade de expressão, num mundo que parece abdicar
delas e da civilização.
Não deixemos que seja Biden a impor as opções comerciais e
políticas à Europa, com a Rússia, China, Médio Oriente ou qualquer outro espaço
geopolítico ou país. Sejamos nós, europeus, a negociar o nosso destino comum e
a defender a Europa de se tornar um satélite dos blocos que se digladiam.
Na mitologia, Zeus, pai dos deuses, raptou-a para a amar e
fecundar. Hoje é dever dos europeus defendê-la dos nacionalismos e amá-la com a
paixão de Zeus.
A Europa somos nós. Viva a União Europeia e o seu aprofundamento.
- O Rapto da Europa – Rubens
Comentários
Partilho consigo o profundo sentimento europeísta, arreigado na consciência de pertença a um espaço com um património cultural comum, herdado das muitas civilizações que se cruzaram neste "velho continente", e na convicção da importância que a nossa integração na Europa teve para reduzir o atraso secular, que os quase trezentos anos de obscurantismo inquisitorial e o quase meio século de ditadura colonial/fascista nos legaram.
Partilho igualmente das suas angústias, ao observar o colapso das sociais-democracias europeias (os melhores espaços de liberdade e democracia que, até agora, nos foi dado conhecer), cilindradas pela onda avassaladora de um neoliberalismo selvagem que, desde o "Consenso de Washington (1989)", avançou imparável por esse mundo fora, sem contrapoder digno desse nome.
E partilho a tristeza, pelo (consequente) regresso da guerra a um espaço que já foi palco de outras tragédias idênticas; guerra fabricada para satisfazer as estratégias geopolíticas dos que se consideram donos do mundo e dos nossos destinos; guerra que ressuscita velhos fantasmas, representativos do lado mais negro da espécie humana; guerra que faz adensar a incerteza sobre o futuro deste belo planeta azul; guerra que tem revelado a indigência, a irresponsabilidade, e o servilismo dos atuais líderes europeus, cuja única atitude tem sido a de lançar gasolina para a fogueira... que nos pode queimar a todos.