A GUERRA (2) – A União Europeia enredada em nacionalismos
Poucas notícias são tão alarmantes como os exercícios militares conjuntos da China e da Rússia, duas potências rivais que a Nato uniu contra a Europa e os EUA, ainda que não coincidam sobre a invasão da Ucrânia.
A UE, ansiosa por alargar a sua influência a leste, na
convicção de que seria herdeira do colapso soviético, não mediu as
consequências da hipoteca ao espaço anglo-americano, e preferiu promover a expansão
da Nato à sua coesão. Em vez de se tornar uma potência não hostil, garantindo a
independência face aos EUA, tornou-se seu satélite, enquanto a aliança
anglo-americana se reforçou. A Europa entrou na guerra, sem estratégia própria,
sem prever os custos financeiros, sem gás, sem cereais e sem alternativas.
O Reino Unido, cujo império é uma fachada mantida no fausto
da monarquia, corroeu a coesão europeia e estimulou a UE, depois de a ter
traído, a seguir a NATO. A belicosa sr.ª Ursula Von der Leyen, sem o carácter e
coragem de Jacques Delors, reduz à míngua os europeus, e alinhou a política
externa pela da Nato, pseudónimo militar dos EUA.
A UE e a Nato lançaram-se na injusta e cruel aventura contra
a Sérvia, amputando-lhe o funesto Kosovo, e abrindo as portas ao nacionalismo
da Macedónia contra o da Grécia. Os nacionalismos e as aventuras populistas já
tinham desintegrado a Jugoslávia. Agora foram os nacionalismos ucraniano e
russo a estimular as lutas internas na Ucrânia e as rivalidades étnicas de um
país sem fronteiras consolidadas. No futuro haverá outros.
A caixa de Pandora foi aberta. Há quem julgue que a Rússia é
comunista e que é preciso apoiar a Nato para conter o defunto Pacto de
Varsóvia. Não é só o neoliberalismo que nos destrói, é a agnosia histórica e a
falta de visão europeísta.
A UE devia ter sido exemplar na moderação, para poder conter
os ódios e as rivalidades étnicas que os nacionalismos exacerbam. Podia e devia
ser a mediadora do conflito que, talvez, pudesse ter evitado, em vez de pelejar
por um dos lados sem benefício próprio nem defender as democracias, como
apregoa. Acabou por deixar a mediação à ditadura turca. Quantas democracias
sobreviverão a esta trágica aventura?
O afastamento ou, mesmo, hostilidade de países como a China,
a Índia e quase todos os de África, não favorecem a paz nem a UE. É
imprevisível o tempo que os eleitores dos países democráticos continuarão a
apoiar a guerra pela alegada defesa da civilização ocidental quando a fatura se
tornar demasiado pesada e escassearem os bens. A derrota da Rússia só aumentará
a instabilidade e desintegração do seu imenso território, com o surgimento de
repúblicas islâmicas e proliferação de campos de treino terrorista. Antes disso
ninguém pode prever que armas usará para evitar a humilhação e que destruição
generalizada levará à Ucrânia.
A Nato ganhou depressa a guerra, de forma esmagadora, na
opinião pública europeia. Já começou a ganhá-la na Ucrânia, mas quanto tempo aceitarão
apoiá-la os eleitores da UE e com que ressentimento? Como irá acabar e que
tragédias ainda acrescentará?
O Inverno pode ser o Inferno dos Governos e das democracias.
A Itália é já o primeiro teste.
A guerra geoestratégica final pela hegemonia no Planeta, se
este existir ainda, é entre os EUA e a China, e não há impérios perpétuos. Nem
planetas!
Apostila – Peço aos belicistas de sofá para moderarem a
linguagem entre leitores.
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