O neoliberalismo anda aí a contaminar partidos e a alvoroçar oportunistas
Da IL ao defunto CDS, do PSD ao interior do PS, das televisões aos jornais, surgem as vozes inconformadas com a solidariedade social, ansiosas das liberdades que permitem reduzir o Estado ao mínimo e desregular a iniciativa privada ao máximo.
Não surpreendem os fascistas ou a IL. A IL defende o mais radical
neoliberalismo, com uma taxa única do IRS para quem ganhe mil ou um milhão, a
fazer corar de vergonha os que defendem um capitalismo de rosto humano.
No CDS já tinham desaparecido os democrata-cristãos,
restando os neoliberais, antes do óbito do partido. Agora, na defunção, aparece
Nuno Melo a caminho do partido fascista se não conseguir a ressurreição do
partido que afastou os fundadores.
O que surpreende, ou talvez não, é o regresso mediático dos
neoliberais do PS, desde Francisco Assis que, depois de se ter oferecido e sido
recusado para presidente da AR, já elogiou Passos Coelho de modo a que o PSD deixe
de o considerar ativo tóxico. Sérgio Sousa Pinto é um caso de oportunismo, a
degradação de quem defendeu na JS e na AR as posições mais avançadas para
apanhar agora o comboio do neoliberalismo que julga estar a chegar, rebocado pelo
PR.
O caso mais surrealista do PS é o de um médico autointitulado
“líder da ala socialista-liberal”, um oxímoro tão delirante como
fascista-democrático ou vegetariano-carnívoro. Em representação da SEDES leu o
manifesto neoliberal que alguém lhe escreveu como militante do PS. Perante os
ataques concertados à social-democracia, para não referir a hostilidade carregada
de ódio a qualquer forma de socialismo, não admira que a direita lhes dê amplo
espaço mediático nos órgãos que domina.
São estes os ‘socialistas’ que o PSD convida e exibe na
Festa do Pontal. Nada é melhor para o contrabando de ideias do que ter quem as
divulgue a partir do espetro partidário concorrente.
O pessoal de António José Seguro, o que criou a risível
candidatura de Maria de Belém a PR, está de volta. A defesa do neoliberalismo
chega ao interior do PS.
Cabe aos militantes do PS a defesa da matriz partidária e afastarem-se
de camaradas que pretendem empurrar o partido para a direita.
Ponte Europa / Sorumbático
Comentários
Não é o neoliberalismo aberto, declarado, que minará o PS. Bem pior do que esse, é aquele que amarra e submete o partido a ideias e interesses terceiros, vindas do outro lado do Atlântico. Tenho para mim que a questão política fundamental do momento gira à volta da guerra e do modo como será resolvida. É que, parece haver quem entenda que é possível uma III guerra mundial com vencedores, sendo que esses que assim pensam seriam os afortunados! Neste contexto, António Costa (AC) justificou a necessidade de recorrer às medidas agora implementadas com a existência da guerra. Não fora a guerra e as mesmas não teriam razão de ser, diz (não houve um jornalista que lhe perguntasse como conciliava essa proposição com o apoio que dava à guerra!). Contudo, não hesita em ajudar à mesma, num seguidismo acéfalo desnecessário. De facto, pertencer à NATO, à UE, à ONU ou a qualquer outro fórum não implicará abdicar de ter opinião própria. Por exemplo, José Sócrates declarou, em artigo de opinião, ou entrevista, já não posso precisar, que em 2008, quando os EUA quiseram incluir a Ucrânia na NATO, Portugal votou contra. Claro que AC e e o PS sempre poderão dizer que essa é a sua opinião convicta! No entanto, tal posição não faria qualquer sentido, tendo em atenção o cerne dos valores fundadores do PS, dos quais destaco a liberdade e o pluralismo. Ora AC e o PS, que eu saiba, nesta situação, nunca denunciaram a asfixia das opiniões contrárias à guerra, sendo à custa dessa mesma asfixia que pretendem cimentar o apoio a uma das partes directamente envolvidas no campo de batalha. Volta a haver censura neste País num tempo em que é a existência da própria espécie humana que pode estar em causa. E tudo isto sob a batuta de um governo PS, havendo uma quase unanimidade das elites partidárias numa união espúria que não augura nada de bom para a democracia portuguesa, e não só! Sem ser militante do PS, ajudei a eleger António Costa (AC) secretário-geral e primeiro-ministro, por duas vezes. Esperava que fosse uma voz a favor da paz, ajudando a promover uma solução negociada para o conflito, que outra, razoável, não se vislumbra. Sinto-me traído e perdi toda a confiança na acção de um governo que ajudei a eleger.