Deus, Pátria e Família – Reflexões avulsas
Independentemente das causas, dos responsáveis e das explicações, não restam dúvidas sobre o empobrecimento mundial, especialmente o europeu, e o perigo que correm as democracias que ainda resistem.
Sob o ponto de vista económico, assistimos à tempestade perfeita. Depois da pandemia e da guerra, a fome e o frio avizinham-se da UE, sem estar afastada a tragédia da guerra nuclear, e o abismo aguarda belicistas e pacifistas, ricos e pobres, velhos e crianças.
O entusiasmo de Boris Johnson, afastado do Governo do R.U. por mau porte, e da Sr.ª Ursula Von der Leyen, na aplicação de sanções à Rússia e apoio à Ucrânia, teve o efeito perverso de arruinar a economia da UE. Por bem fazer, mal haver, o fervor de apoiantes está a arrefecer, mais empenhados no bem-estar próprio do que na solidariedade.
Com a Rússia desfeita moral, política e financeiramente, a Ucrânia arruinada, e o resto da Europa a desintegrar-se, vive-se um quadro apocalíptico. As democracias fenecem e o neofascismo, que atingiu a Hungria e Polónia, chegou à Suécia e, no último domingo, explodiu em Itália com o slogan de Mussolini: “Deus, Pátria e Família”.
Em Portugal, os salazaristas encapotados perderam o pudor. Cavaco, o único que nunca disfarçou, reagiu com aprovação à entrada do partido fascista no Governo Regional dos Açores. Agora é Luís Montenegro, um genérico de Passos Coelho, que pretende violar a consciência dos deputados do seu partido para votarem favoravelmente a entrada de um deputado fascista para vice-presidente da AR e, perante a dignidade dos deputados, pede ao presidente da AR para interceder pelos fascistas, com quem quer coligar-se se estiver ainda na liderança do PSD quando o prazo do atual Governo se esgotar.
A Itália de Mussolini regressou liderada pela neofascista Giorgia Meloni, acolitada por Salvini e Berlusconi, que, à semelhança de Hitler e Mussolini, ganharam as eleições. Quando os democratas sentem um calafrio, só faltava que o PR português, numa fase de regresso às origens, viesse dizer, perante a exuberante vitória fascista, que “O povo tem sempre razão”, o que já não se estranha em quem chamou irmão a Bolsonaro e serviu de adereço a um comício seu a pretexto do bicentenário da independência do Brasil.
Com a inflação a subir, o euro a depreciar-se, a economia a retrair-se, é difícil prever até quando resistirá a solidariedade com a Ucrânia e com as democracias que permanecem.
A direita portuguesa já não é a que se organizou após o 25 de Abril, com Sá Carneiro, Magalhães Mota e Balsemão, no PSD, e Freitas do Amaral e Amaro da Costa no CDS. A atual direita é a de Cavaco e Passos Coelho, aliada a um partido fascista normalizado através de Montenegro e, pelas declarações sobre os resultados eleitorais italianos, sem preocupação de Marcelo, que parecia ter repudiado o fascismo onde nasceu.
O Reino Unido, que vibrou o primeiro golpe na UE, saindo, furtou-se às obrigações, e continuará como entreposto americano na Europa, com a sua política alinhada com os interesses da antiga colónia, independentemente de interesses europeus divergentes.
Mesmo os mais otimistas hão de reconhecer a aceleração com que o Mundo resvala para o abismo.
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