Salman Rushdie – Religião e terrorismo. Quero notícias do escritor.

Há inúmeros crentes, em êxtase de piedade e ansiosos do Paraíso, a imolarem-se em atentados terroristas ou a congeminarem a forma de erradicar infiéis, aspiração comum a todas os fanáticos, mais enérgica onde a doutrinação principia na infância e termina com o salto mortal para o colo de virgens ou companhia de anjos.

O diálogo de civilizações é um desejo laico que tem servido a aliança conjuntural entre religiões contra o laicismo, a secularização e a liberdade, para erradicarem os inimigos comuns, primeiro, e aprontarem, depois, entre elas, o confronto final.

Afigura-se profético o título do livro de Robert Hutchison: “O Mundo Secreto do Opus Dei – Preparando o confronto final entre o Mundo Cristão e o Radicalismo Islâmico”. (Ed. Prefácio, novembro de 2001)

Nas sociedades laicas e liberais as religiões mais prosélitas iludem a vigilância policial. As tragédias em Nova Iorque, Madrid ou Paris acordaram as democracias e a vigilância policial, e as explicações dos muçulmanos, perante os crimes, são pueris e intoleráveis.

Estava esquecido o exemplo do que aconteceu com Salman Rushdie, na sequência da publicação de «Os Versículos Satânicos», os esquadrões da morte mobilizados para o matar, apoiados pelas embaixadas do Irão, os editores agredidos e mortos e as livrarias destruídas. Já ninguém se lembra de que o Vaticano, o arcebispo de Cantuária e o rabino supremo de Israel tomaram uma posição favorável ao Aiatola Khomeini, todos ao lado do carrasco, todos contra a vítima. “Não se deve ofender a religião dos outros.”!

Em junho de 2007, perante a decisão do Reino Unido em homenagear o seu escritor, o ministro dos Assuntos Religiosos do Irão, Mohammed Ijaz ul Haq, citado pela Sky News, considerou que o título de “cavaleiro” outorgado a Salman Rushdie era insulto ao Islão, afirmando que “Se algum homem-bomba se fizesse explodir, ele teria toda a razão para o fazer a não ser que o governo britânico peça desculpa e retire o título de «cavaleiro». (A falta de concordância pode ser erro de tradução). É preciso desfaçatez!

Em 12 de agosto deste ano, Hadi Matar, muçulmano empedernido pela fé, esfaqueou-o repetidamente, momentos antes do início de um evento em Nova Iorque. A crueldade esteve à altura da devoção assassina, e o escritor sobreviveu, quase cego, com cicatrizes, incapacitado e condenado a um perpétuo e atroz sofrimento.

Foi notícia duraram dois ou três dias. O esquecimento do livre-pensador mártir é reflexo da inversão de valores que os media cultivam nas democracias. Alguém sabe do estado de saúde atual? Nem uma só teocracia pediu desculpas e nenhuma democracia as exige.

A atmosfera adensa-se, a Europa está refém do medo e os políticos põem-se de joelhos ou de cócoras, favorecendo o regresso da religião à política para ganharem votos.

A tragédia dos países islamizados deve-se à natureza não secular do Estado. O ódio dos clérigos ao laicismo e a sua arrogância moral exacerbam-se com o declínio económico e cultural.

E não há boicote ao petróleo da Arábia Saudita!


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