Os fogos do nosso desespero – arre porra que é demais!

O país continua a arder com os bombeiros exaustos, as populações aterradas e a nossa paciência esgotada sem que a revolta produza um simples desabafo: arre porra, que é demais!

Nunca tamanha incompetência encontrou tanta insensibilidade e tão forte dissimulação.

Entre os banhos e a preparação da festa do Pontal, o PM só deu sinais de vida com um tweet: «Unidade e determinação – foi este o espírito da coligação e desta com os EUA, na reunião que tivemos esta tarde. Juntos temos de o conseguir, o mais rapidamente possível, o cessar fogo e uma paz justa e duradoura na Ucrânia».

Que o fogo não cessasse no país era uma preocupação menor. Depois lá apareceu o PR a dizer que acompanhava a situação e que tinha falado com um secretário de Estado. Só a seguir surgiu o PM, lacónico, a anunciar o «Estado de alerta prolongado 48 horas» e a passar imediatamente a outros assuntos.

Entretanto surgiu o vídeo do candidato a PR, Gouveio e Melo, a dizer-se envergonhado com as avarias dos aviões de combate aos fogos e o colapso do Estado, para o ainda PR dizer que os fogos não devem ser instrumentalizados politicamente.

Que desfaçatez e desmemória de quem pediu a demissão da ministra Constança Urbano e ouviu o ora PM a exigir consequências políticas em incêndios do passado!

Marcelo ainda debitou uma inanidade a prevenir o país para os perigos dos incêndios na sexta-feira, pelas condições meteorológicas, a esconder a tragédia real do momento com o risco eventual.  

A partir daí foi ver Marcelo, descoroçoado com o desprezo a que tem sido votado, a ser o ventríloquo do PM e a salvá-lo enquanto este sorria com aquele riso a exigir um sumo de limão bem amargo para lhe retirar aquele ar enigmático de felicidade ou gozo. Há de gozar com a vingança do rural que desarmou o urbano e o domesticou.

Reuniram bem-dispostos, estiveram numa Câmara algarvia e jantaram em Cacela Velha. O PM deixou o PR como porta-voz e, indiferente ao fogo que lavra no País, pode cuidar da incineração da oposição a quem consegue atribuir todos os males.

Logo à noite, há circo no Pontal. O Luís é a atração principal.

Arre porra que é demais!