Diário Ateísta - Textos meus
Causas da decadência ética em Portugal
A mãe que reza o rosário para que o filho passe no exame está a meter uma cunha à santa para que influencie o júri que o há de julgar.
O construtor civil que manda um cabaz de Natal a casa do engenheiro da Câmara agradece o último andar do empreendimento, que não constava do projecto.
O funcionário que promete ir a Fátima, se for promovido, quer apenas que Deus se lembre dele para a vaga que por mérito pertenceria a um colega.
O cordão de ouro que a minhota deixou no andor do Senhor dos Passos para que o seu homem deixasse a galdéria que o transtornou e voltasse para ela, sabe bem que sem a renúncia ao ouro o Senhor não lhe levaria de volta o bandalho do marido.
Sempre que há promessas para obter do santo, especializado em certo tipo de subornos, um qualquer benefício, é a confissão do carácter venal da Providência. É o cabrito que se manda ao chefe na véspera das actualizações salariais.
Ao santo pede-se que interceda junto de Deus para fazer ao
mendicante o que não faz a outros. Ao chefe solicita-se que trame o parceiro em
benefício próprio.
Portugal é um país venal, de pequenas e vis corrupções, feito à imagem da religião que o marcou, espécie de ferro que indica a ganadaria e distribui os portugueses por paróquias e dioceses como animais da respectiva quinta.
Que pode esperar-se da Igreja do Papa JP2 que acreditou que a Virgem lhe dirigiu a bala por sítios não vitais poupando-o a ele sem dele nos poupar a nós?
A mentalidade beata cria gente que vê o empenho, suborno e compadrio como virtudes canónicas, que fazem às pessoas o que lhe ensinaram a fazer com Deus.
Felizmente ainda há gente séria. O mesmo não se pode dizer da fauna mística que povoa o Céu, um grupo de agiotas onde se chega através de agentes, à custa de missas, terços e oferendas e da renúncia aos prazeres da vida.
sexta-feira, 26 de maio de 2006 (ortografia atualizada)
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