Crime de honra
Em Itália, um piedoso paquistanês, Muhammad Saleem, de 55 anos, foi preso por matar uma filha. A jovem Hina Saleem, de 20 anos, perfeitamente integrada, a trabalhar numa pizzaria, acalentava o sonho de fazer carreira no cinema.
O italiano com quem a jovem vivia, há cinco meses, comunicou o desaparecimento que conduziu ao pai. Um tio e um cunhado estão provavelmente implicados neste nefando «crime de honra».
A família não suportava a união com um homem divorciado e casado segunda vez. Ao ser preso o pai exclamou: «eu não queria que se tornasse uma puta como tantas outras raparigas».
A influência religiosa e os preconceitos sociais da comunidade não hesitam perante o crime, desprezando as leis do País de acolhimento. Cometem-se na Europa imensas transgressões em nome da tradição e à sombra da condescendência com a barbárie.
O pai já tinha prometido a rapariga a um primo, no Paquistão, e a sua desobediência só podia, nos costumes tribais da família, ser punida com a morte, friamente premeditada.
Tenho a convicção de que não há guerra de civilizações, há uma luta entre a civilização e a barbárie, a democracia e a teocracia, a liberdade e a tradição. Há um longo caminho a percorrer para impor o respeito pela Declaração Universal dos Direitos Humanos».
Fonte: LE MONDE 18.08.06 15h58 • Mis à jour le 18.08.06 15h58
Comentários
Há quantos anos isto era assim em muitas terras, sem a barbaridade do assassinato, porque há várias maneiras de matar uma criatura?
Quando é que deixou de se 'lavar a honra', em muitas comunidades?
Entre ciganos (suponho), não se faz ainda hoje?
Eu não estou a indultar os tristes assassinos, longe disso! Mas são tão fundas estas coisas... São de religião, são de cultura, são de ambas?
Os crimes de honra são em primeiro lugar passionais, sejam do foro afectivo ou do âmbito religioso - para citar alguns dos mais frequentes. Até no domínio político encontramos este tipo de crimes.
Sem querer aministiar ou aliviar as tremendas responsabilidades da famigerada e desintegrada família da vítima, julgo ser perigoso generalizar este ignóbeis comportamentos num quadro meramente civilizacional.
A família da jovem Hina Saleem é com certeza uma família paquitanesa desintegrada do Mundo actual. Quando digo Mundo não o qualifico de, por exemplo, Ocidental, porque acho que este elevado grau de inadaptação pode acidentalmente ocorrer em qualquer parte, isto é, nos vários Mundos civilizacionais.
A desintegração, os ódios, os dogmas, os conceitos espúrios de honra, estão na génese de muitos fundamentalismos.
Para além de injustificáveis enviesamentos civilizacionais (que ocorrem em qualquer lado) esta família padece, em meu entender, de um grave deficite educacional e, para além disso, de uma insuportável entorse cultural.
Não deve representar, nem de perto nem de longe, a comunidade paquistanesa (cuja dimensão desconheço) que vive em Itália.
Sem querer adiantar-me à escalpelização deste assassínio, que compete, em primeira mão, à polícia, aos psicólogos, e outros investigadores sócio-criminais, não engeito a possibilidade de estarmos perante uma poderosa disfunção mental, psiquica e socio-cultural.
Vamos então dar tempo para um estudo (inquérito) judicioso e isento de paixões acerca deste escabroso assassínio que, na nossa visão cultural, é absolutamente - aberrante e injustificável.
Queria, no entanto, salvaguardar o problema das migrações, subjacente a este caso.
Situações como esta são frequentemente aproveitadas pela direita xenófoba. No caso vertente, Ignazio La Russa da Aliança Nacional (partido da extrema direita italiana) já veio a terreiro para tecer demagógicas considerações sobre a dificuldade (impossibilidade?) de integração dos emigrantes.
Muito embora consternados com o sucedido a aposta da esquerda deve ser, exactamente, a integração.
Uma integração abrangente: na cultura, na educação, na sociedade e não só no mercado de trabalho.
Perdoe o despropósito.
O exército sionista deixou uma sementeira de cluster-bombs no Líbano.
Ficaram baratas, o Pentágono tinha lá um arsenal que sobrou do Vietnam, era uma pena estragarem-se.
E assim, saltando de bomba em bomba, já podem encontrar o caminho de casa os dois soldados raptados há tempos pelo Hizballah!
Pior estão as crianças libanesas, que vão ter ainda mais surpresas.
Tudo isto dá que pensar.
Há uma trégua há alguns dias, não é verdade? E o que é que entretanto já aconteceu?
Os sionistas aprisionaram o 1º ministro palestino da AP, do Hamas, eleito há tempos. Foram buscá-lo a casa. É um terrorista e pronto.
Ao mesmo tempo atacam e bombardeiam em Bekaa as instalações duma escola, para impedir que o Irão e a Síria metam armas no Líbano.
Isto é apenas a reposição dum filme já visto, porque os 'maus', os 'terroristas', os 'fanáticos', têm caminho aberto para responder.
E voltamos sempre ao mesmo ciclo.
Se V. fosse palestino, ou xiita, ou um caraças qualquer, o que é que fazia?
Acha mesmo que a solução disto tudo passa por aniquilar o bárbaro inimigo, porque ele quer destruir a nossa civilização?
Acredita mesmo nisso?
Algum dia viu alguma potência aniquilar um povo qualquer, em qualquer lugar da história, através do poder de fogo?
Com terroristas é eles ou nós......
ninguem obriga a que cultivem a nossa cultura, mas se adoram este mundo ocidental e gostam de cá viver....logicamente tem que se adaptar, o mesmo acontece nos seus paises ou não repara que ate as reporteres tem que andar de véu????
è essa condescendencia que não quero hipocritamente acolher.
Acho, sinceramente, que somos - enquanto portugueses - absolutamente hipócratas no abordar dos complexos fenómenos migratórios que há muito assolam o Mundo e, particularmente facciosos, no julgar dos inevitáveis problemas de integração, daí advindos.
Suspeito que sofremos - não só neste âmbito - de grave disfunção da nossa memória histórica.
Não tardará que tomem o partido do terror e apoiem a barbarie, a vergonha parece estar a desaparcer.
Com terroristas é eles ou nós......
Sáb Ago 19, 12:25:40 PM
RESPOSTA: Esse maniqueísmo lembra-me Durão Barroso, a propósito do Iraque, atitude que comprometeu a alegada superioridade moral do chamado Ocidente.
O sionismo não é terrorista? O protestantismo evangélico não o é, também?
É o costume. Mas para esta maltinha que usa umas palas nos olhos, tanto faz. Desde que o crime seja cometido pelos bons, está certo. Depois queixam-se!