Um intervalo na guerra
O cessar-fogo anunciado entre Israel e o Hezbollah, sob os auspícios da ONU e a mediação da União Europeia não é o fim da guerra e, muito menos, o princípio da paz.
A guerra não é entre Israel e o Líbano, é entre o sionismo judaico-cristão e o terrorismo islâmico teleguiado de Teerão, através da Síria.
De um lado há uma tendência expansionista que não tolera a autonomia da Palestina, do outro a cegueira que pretende a erradicação do Estado de Israel. O terrorismo tem raízes bíblicas que é preciso extirpar.
A Tora e o Corão são certidões da Conservatória do Registo Predial Celeste que atribuiu os mesmos terrenos a dois proprietários distintos. É por isso que terrorismo e resistência se confundem entre fanáticos que acreditam na validade do atestado de posse.
Pela primeira vez, desde a sua existência, Israel não ganhou a guerra. Reduziu o apoio dos países ocidentais e agravou o ódio dos vizinhos islâmicos sem conseguir aniquilar o Hezbollah. O seu futuro começa a ser incerto.
Certa esquerda vê em Israel a face do imperialismo e nas teocracias islâmicas amanhãs que cantam. A direita, nostálgica do colonialismo, olha com arrogância para os árabes e com volúpia para o petróleo e ninguém, nenhum país, ajuda a criar condições para que a separação da Igreja e do Estado permita as mais básicas liberdades aos povos oprimidos pelo Corão.
Comentários
Todavia, a situação política no Médio Oriente evoluiu pouco, ou melhor dito, complicou-se.
A depropositada e desproporcionada violência de Israel visando destruir o Hezbollah (partido fundamentalista xiita sedeado no Libano), para além de não ter conseguido atingir com eficácia esses objectivos, atingiu colateralmente um País soberano nas suas infraestruturas necessárias (indispensáveis) para o desenvolvimento e bem-estar das populações. Causou mais de mil mortos em ambos os lados (1130 mortos?), destes 30 por cento crianças com menos de 12 anos, provocou 3600 feridos e o inacreditável número de um milhão de deslocados (refugiados).
Estes "danos colaterais", para usar a terminologia bélica norte-americana, não podem deixar de ter um custo político enorme. Qualquer trégua que se estabeleça, qualquer ajuda que se preste, não os apaga. Sobre o anti-americanismo reinante (neste momento exacerbado) nesta região do Mundo, primeira vítima desta nefasta política interventiva, os americanos só se podem queixar de si mesmos.
Hoje, sabe-se que o pretexto invocado (rapto de soldados israelitas na fronteira do Sul do Libano com Israel) foi, isso mesmo, um mero pretexto.
Há poucos dias um respeitado jornalista americano - Seymour Hersh - denunciou que o ataque perpetrado contra o Hezbollah há muito que vinha sendo preparado por Israel em concordância com os EUA. Fazia parte de uma estratégia para atingir o Irão.
Apesar dos catastróficos resultados no Afeganistão, Iraque e Palestina continua, na ordem do dia americana ,a política de "guerra preventiva" preconizada pelos neo-conservadores que rodeiam e influenciam a administração Bush.
Na sequência dos bombardeamentos de Beirute por Israel há o perigo de que a guerra patrocinada pelos EUA no Médio Oriente, venha a estender-se a toda a região Médio Oriente - Ásia Central. O que pode ser um escondido (secreto)desígnio de Washington. A ver vamos.
O que sobejamente conhecemos
são os maus resultados, isto é, ao contário do que o Sr. Bush propagandeia: - um Mundo cada vez menos seguro.
O receio é sempre o mesmo. Devemos temer que o cessar fogo conseguido não seja o caminho para a Paz mas tão somente uma pausa na guerra. O que é substancialmente diferente.
As recentes declarações do presidente da Síria, Bashar al-Assad, anunciam que emergiu um novo Médio Oriente, no escombros do que considera ser a vitória do Hezbollah sobre Israel, no Sul do Líbano, e afirma que o projecto dos Estados Unidos da América para o Médio Oriente não passa de uma ilusão.
Por outro lado, o presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, afirma que o Irão deseja um Médio Oriente sem a presença norte-americana e sem Israel. A afirmação de Ahmadinejad "sem Israel" é um velho rastilho para reacender uma nova crise.
Em Israel vive-se a depressão resultante da constatção sobre a falência sobre a "invencibilidade" do exército israelita, conceito defendido e alimentado pelos extremistas sionistas. É também previsível (dados os fragéis equilíbrios políticos) que a crise política se aproxime e mine a estabilidade do governo israelita.
Prestigiados intelectuais israelitas como David Grossman e Amos Oz, que inicialmente apoiaram a posição de Telaviv, exigem o fim das hostilidades e questionam toda a política no Médio Oriente.
Mais uma vez, devemos recear que esta trégua perfigure, tão somente, uma pausa na guerra.
Por outro lado, Noam Chomsky e escritores como Harold Pinter, José Saramago e John Berger subscreveram um texto onde denunciam por parte de Israel:
“uma prática militar, económica e geográfica de longo prazo, cujo objectivo político é nada menos do que a extinção da nação palestiniana”.
Assim, retomando as preocupações dos supracitados intelectuasis, perguntamos:
"Quantos mais mortos Palestinianos, Libaneses e Israelitas serão necessários para que o Mundo reconheça os factos?"
As Conservatórias «Celestes» não são reconhecidas juridicamente mas são aceites pelos beatos dos diversos credos monoteístas.
Basta reparar nos vários fundamentalismos