Ramalho Eanes referiu como trágica a descolonização em que «milhares de pessoas foram obrigadas a partir para um país que não era o seu». Tem razão o ex-PR cujo papel importante na democracia e o silêncio o agigantou depois da infeliz aventura por interposta esposa na criação do PRD e da adesão à Opus Dei, sempre por intermédio da devota e reacionaríssima consorte, que devolveu o agnóstico ao redil da Igreja. Eanes distinguiu-se no 25 de novembro, como Dinis de Almeida no 11 de março, ambos em obediência à cadeia de comando: Costa Gomes/Conselho da Revolução . Foi sob as ordens de Costa Gomes e de Vasco Lourenço, então governador militar de Lisboa, que, nesse dia, comandou no terreno as tropas da RML. Mereceu, por isso, ser candidato a PR indigitado pelo grupo dos 9 e apoiado pelo PS que, bem ou mal, foi o partido que promoveu a manifestação da Fonte Luminosa, atrás da qual se esconderam o PSD e o CDS. Foi nele que votei contra o patibular candidato do PSD/CDS, o general Soares...
Comentários
A Direita, nenhuma Direita, se presta ao julgamento da História.
Não partillha da dimensão que lhe deu Cervantes:
A História é émula do tempo, repositório dos factos, testemunha do passado, exemplo do presente, advertência do futuro. in D. Quixote.
Mas, acima de tudo, odeia a história do pensamento. Porque, ao entrar nesses caminhos, corre o risco de lhe desfazer a mistificação da glória - tão cara aos ideais conservadores -de que se julgam únicos e exclusivos proprietários.
Por outro lado, a História é, sempre, o desfazer das de ilusões, o acordar de um sonho em que homens participaram, construíram, destruíram, morreram, foram torturados, mataram, odiaram, etc.
A Direita gosta, isso sim, de fabricar a História. A sua história. E, depois, de transmiti-la como uma verdade insofismável.
Por isso, tem a predilecção por reescrivinhá-la nos livros e compêndios escolares. A manipulação é sempre mais eficaz, mais marcante, nos periodo incical da formação do conhecimento e da moldagem da personalidade. Deixa marcas indeléveis.
A Direita, defende que essa - a sua visão História - não deve ser pensada, nunca remexida, sempre venerada.
Mas a História pode (deve) encerrar no seu seio a crítica. Isto é, julgar e condenar.
Baltazar Garzón, magistrado, ao remexer nas valas comuns, não está a tentar fazer juízos colectivos, nem uma investigação policial, antes, persegue - como homem - a dimensão crítica da História.
O franquismo tinha um suporte humano e ideológico, para além de um braço armado - A Falange.
Um fascismo muito velho, mas renascido, sobre as cinzas da guerra civil.
Já tinha escrito e erguido loas à História do franquismo. E queria ter encerrado esse período de Espanha com a morte do caudilho. Para e”eles” estava tudo dito e escrito.
Não admite que o juiz Garzón venha repensar essa História. Para contrariar essa noção, para colocar o problema no seu lugarm ele mesmo, no início deste processo, começa por pedir a certidão de óbito de Franco. Como muitas vezes tem sucedido à morte física da sua figura central segue-se o julgamento da História.
A História já não é feita de crónicas escritas por "canetas de aluguer" de serventuários reais ou do poder.
A História do mundo é, também, um tribunal cívico (não cível), porque, abrange - para além dos homens - as ideias e os espíritos nacionais ou universais.
Neste caso o particular, a Espanha, visa as formas de culto ideológico, o que se fez com os homens e mulheres que viviam em sociedade, como se torturou o pensamento e as vidas dessas famílias, comunidades e nações, em todas as suas diferentes actualidades.
Refaz-ze a História do Pensamento, das Artes, da Cultura (não será por acaso que exuma a vala de Garcia Lorca). Não é a História da Guerra Civil, enquanto luta entre dois campos.
Neste acto de Garzón tudo isto está presente apenas como o corolário humanitário que movimenta o presente em direcção a pacificação futura. A Direita não compreende isto.
A História escrita pelos vencedores, acabou. Como acabaram os filmes de Hollywood onde o herói salvava sempre a pátria.
Quando, os momentos de lazer, ou mesmo o trabalho, passamos (nós, cidadãos europeus) pelos lados dos rochedos de Cuelgamuros (próximo de Guadarrama e do Escorial) e deparamos com o monumental "santuário" de Vale de los Caídos, centrado por um obelisco e uma igreja elevada a basílica (pelo papa João XXIII), quando sinto o odor a suor, sangue e lágrimas daqueles prisioneiros republicanos (perdedores) condenados a trabalhos forçados na sua construção, quando "ouço" o infame grito de que tudo se estava a fazer como sustentáculo político do franquismo e canonizar o homem como caudilho de Espanha pela gracia de Dios, então, compreendo até onde pode ir uma aliança nacional-catolicista e agradeço a Garzón que remexendo neste contexto histórico traga novos dados ao Mundo.
PS - O Partido Popular já iniciou os protestos. Quer ocultar o passado.
Em breve, teremos a Conferência Episcopal espanhola a terreiro. Deve estar à bica - depois da beatificação de centenas de falangistas - mais um tradicional pedido de desculpas...