Cavaco, Passos Coelho e o PSD

Cavaco Silva felicitou no sábado o novo líder do PSD, Pedro Passos Coelho, afirmando que "neste momento, independentemente de se gostar ou não gostar do Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC), temos que nos colocar na posição de defender Portugal perante o estrangeiro".

Cavaco demorou 24 horas a felicitar o vencedor da luta interna do PSD, quiçá à espera dos resultados definitivos de Passos Coelho, desolado com a perda de autoridade no partido onde os seus delfins sempre falharam.

Não admira, apesar da verdade do que diz, o súbito ataque do patriotismo que escondeu no caso das escutas. O País não suporta facilmente, com os apertos financeiros e com a agitação social que se prevê, eleições a curto prazo, nem os interesses do PR para uma reeleição se coadunam com tal eventualidade.

O tempo de Passos Coelho é outro. Ou vai a eleições enquanto funcionam os ataques ao carácter de Sócrates ou arrisca-se a ter a sorte de Marques Mendes e de Filipe Meneses, triturado pelos apoiantes de Paulo Rangel a quem não faltaria, a devido tempo, o apoio presidencial e providencial, ou o aparecimento de um peso pesado, como Rui Rio.

Passos Coelho já deve ter aprendido que o ímpeto liberal aprendido na escola de Ângelo Correia não é receita para o País cujas debilidades atrairiam um surto de agitação social e de miséria intoleráveis. Resta-lhe, pois, fazer o que tem vindo a fazer Sócrates, piscar o olho a meia dúzia de capitalistas e conter os ímpetos dos seus apoiantes autárquicos. O PSD, carente do poder, depois de duas fracassadas experiências com Barroso e Santana Lopes, cai-lhe no regaço mas, para isso, não pode dar tempo a que a ansiedade e a desilusão se instalem.

Enquanto Cavaco precisa de estabilidade para ser reeleito, Passos Coelho necessita de ser rápido a derrubar este Governo,

É da luta de interesses destes dois líderes das hostes do PSD que o País ficou refém. Não auguro nada de bom. Nem para o País, nem para o PS, nem para o PSD.

Comentários

e-pá! disse…
Pedro Passos Coelho (PPC) tem pela frente tarefas urgentes, como se lê no post.

Uma delas tem sido, de algum modo ignorada e esconde a imperiosa necessidade do novo presidente do PSD trabalhar para o interior do partido. As afirmações de circunstância "pós-directas" demonstrativas de vontades colaboracionistas dos vencidos, são meras boutades. PPC não pode dar-lhe crédito e sabe - andou 2 anos a "tomar o pulso" pelas estruturas partidárias ! - que o PSD, depois destas refregas, não fica automaticamente "pacificado".
"Barrosistas","santanistas", etc., não ficarão quietos. De concreto, tem como certo o apoio de Ângelo Correia (que prefere trabalhar nos bastidores) e o inevitável "apagamento" da facção "cavaquista" que, com o consulado de Manuela Ferreira Leite, desbaratou toda a sua tutelar influência partidária.
Os seus adversários no combate pela presidência do PSD – Rangel e Aguiar Branco - estão, nos próximos tempos relativamente manietados, o que não significa, o seu liminar desaparecimento, apesar da expressividade numérica da vitória de PPC.

É, por estas incontornáveis razões internas que, o novo presidente do PSD, aponta o ano de 2011, como o momento azado para “provocar” eleições.
Acresce ainda que o derrube do Governo sofre – em parte - de limitações constitucionais, decorrentes das próximas eleições presidenciais.
Mas o derrube do governo em 2011, como é lógico, ultrapassa a própria capacidade de manobra política e partidária de PPC. Na verdade, a aprovação de uma moção de censura, ou por exemplo, a rejeição do OGE no próximo ano, não são dados adquiridos como instrumentos para apear o actual Governo, apesar do profundo descontentamento que reina à Esquerda do PS – PCP e BE.

Quando chegarmos a esse tempo (2011), múltiplos novos factores estarão na berlinda, grande parte deles fora do controlo do PSD.
Isto é, a evolução da situação económica e social do País nos próximos tempos será mais determinante para traçar o futuro do actual Governo do que o insaciável desejo de PPC o derrubar.

Mas não cultivemos muitas ilusões. O PEC e as duras incidências sociais, subsidiárias de um previsível fraco crescimento económico, conjugam os ingredientes necessários para penalizar duramente o PS.
A sensação que temos ao olhar para a Europa é a seguinte: quem está no governo “paga nas urnas” os custos da crise, independentemente da(s) cor(es) ideológica(s) do(s) partido(s) que sustentam os actuais Executivos.

É a vingança de um eleitorado que vem adoptando uma atitude pragmática (!), em contra-ciclo com o “utilitarismo” dos actuais Governos (quaisquer que sejam as cores políticas).
A proclamada “morte das ideologias” não será tão inócua, como desejariam os neoliberais …

Na realidade, perdemos a memória que esta profunda e multifacetada crise - o leitmotiv do nosso descontentamento - foi ditada por politicas neoliberais…exactamente aquelas que PPC é um lídimo defensor.
Este comentário dava um interessante post.

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