Momento Zen de quarta
João César das Neves (JCN), aka Beato João César, é um sério
caso de estudo. As suas divertidas homilias, no DN, primeiro à segundas-feiras
(Momento Zen de segunda) e agora às quartas, sofreram uma alteração temática assombrosa
depois da chegada ao Vaticano do papa Francisco. As citações bíblicas, as
diatribes contra o divórcio, o horror à IVG, as manifestações de homofobia e outras
pias obsessões, mais dolorosas do que os picos do cilício, que ruborizavam os crentes e hilariavam os incréus, deram
lugar aos temas económicos.
Curou-o da obsessão mística o atual papa, de quem foge de
invocar o nome como o seu demónio da cruz, e passou às homilias laicas onde alterna
entre o envergonhado a apoio a Passos Coelho e previsíveis afirmações do
economista de direita, ex-assessor do Prof. Cavaco e ora catedrático na madraça
romana do ensino superior, em Palma de Cima.
Na homilia laica de ontem, JCN, sob o título «Horror àsprivatizações» diz que “Certas vozes porém [sic], sobretudo na esquerda,
insistem no repúdio liminar, em cartazes, inscrições e petições” e acrescenta, sem
provar, “que o mais curioso é que isso subverte a sua [da esquerda] própria
posição doutrinal”. Um homem de fé dispensa argumentos.
Quanto à TAP, afirma: «Alguns casos
são mesmo caricatos: os activistas que se têm esforçado para comover a
população acerca da perda da "nossa" TAP, certamente não consideram
bem o que dizem.
A companhia aérea é pública desde a sua fundação, mas o povo
português pagou, com os seus impostos, fortunas colossais para manter esse
"privilégio". No momento da venda, a dimensão da dívida e o reduzido
encaixe do Estado mostraram bem como o negócio era ruinoso». ‘Era’ ou foi?
“O facto de se tratar de produtos essenciais à vida social
[sic], aliás duvidoso em muitos casos, levaria também a nacionalizar padarias,
habitações e pronto – a – vestir. Os verdadeiros bens de primeira necessidade
estão entregues à iniciativa privada desde sempre, sem que isso gere problemas”,
diz .
Para JCN, as comunicações, energia, saúde, educação e água
devem ser bens de luxo e a privatização da Galp, PT, ANA, Correios e Águas de
Portugal, v.g., estarão agora bem entregues! Sobre essas privatizações é
omisso.
O momento Zen de quarta, termina em apoteose: “. Na oposição
militante à venda de empresas públicas mal geridas, os movimentos de esquerda
manifestam estar dominados, não pelos interesses da população, e ainda menos
dos proletários, mas pelas conveniências de um funcionalismo burguês,
fingindo-se revolucionário”.
Ámen!
Ponte Europa / Sorumbático
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