O erro estratégico (não de Descartes) …
A tarefa do actual secretário-geral do PS está a tornar-se bastante complicada. Eleito para essas funções para ‘garantir’ uma vitória ao PS vê saltar pelo caminho diversos ‘fantasmas’.
O clima político nacional sofreu substanciais alterações (variações) durante este ano (2015) o que sendo coincidente com a entrada em funções do Dr. António Costa não lhe podendo ser imputadas responsabilidades directas. É, acima de tudo, uma dinâmica imposta pelo exterior.
O País foi colocado sob uma pressão mediática onde abundam números avulsos (alguns como o da taxa de desemprego claramente manipulados) e onde se apresentam índices e projecções fora de qualquer contexto analítico (ou ‘torturados’ por enviesadas análises da ‘maioria’).
Uns dias o Governo compara as suas performances actuais com os piores dias de 2012 e 2013, noutros com o memorando que aplaudiu em 2011. Em mais raras ocasiões recua até à entrada na zona Euro onde efectivamente está o problema.
Mas o actuar líder do PS não tem tido tréguas. A sua consagração como secretário-geral coincidiu, na prática, com a prisão de José Sócrates. Depois, foram os percalços de um ‘adormecimento’ dando espaço e tempo à coligação de direita para construir a sua narrativa. A apresentação de um programa político para a governação foi permanentemente ensombrada pela ‘crise grega’.
Quando começou a corrida para a meta eleitoral quando ‘o problema grego’ estaria aparentemente ultrapassado sucede o incrível percalço dos cartazes, 'acidente' que ninguém entende.
António Costa, ontem, teve oportunidade de contrapor, numa entrevista televisiva, o programa socialista à nebulosa pragmática (nada programática) da coligação esgrimida no Pontal, quando o País foi novamente surpreendido pelo anúncio da candidatura presidencial de Maria de Belém. Nos dias seguintes, a imprensa votou-o ao esquecimento e as honras foram todas para este inusitado anúncio.
Hoje, começa a ser notório que a separação das eleições legislativas das presidenciais, um pouco a reboque de um postulado da Direita, poderá servir, em primeira mão, os interesses da coligação.
Na verdade, o exercício governamental durante os últimos 4 anos, beneficiou de um escandaloso e indisfarçável comprometimento do Presidente da República. Seria possível, ou teria sido vantajoso, o PS e, por arrastamento, as Oposições, terem optado por apresentar uma estratégia conjunta que tivesse em linha de conta a realidade desta promiscuidade política e constitucional.
Para muitos portugueses seria um objectivo absolutamente viável e atingível a Esquerda antecipar a apresentação, para a Presidência da República, de um ‘candidato comum’. E esse candidato seria, como ressalta do desenvolvimento político, Sampaio da Nóvoa.
Ficaria, assim, arrumado um dos factores de perturbação e diversão que tem inquinado a campanha eleitoral para as legislativas. Por outro lado, perante o eleitorado, existiria um assomo de ‘unidade’ da Esquerda.
Claro que esta ‘convergência’ não é possível nem suficiente para definir – de acordo com uma análise realista do espectro político e ideológico - um quadro de alianças partidárias à Esquerda. Esse seria o espaço de liberdade que ficaria reservado aos partidos concorrentes que, uma vez arrumado esse assunto (as Presidenciais), ficariam com ampla margem de actuação política de acordo com as diferentes propostas programáticas.
A Esquerda liberta de ruído de fundo permanente e afastada do rodopio que faz, quase diariamente, saltar coelhos da cartola, teria melhores ‘chances’.
Quando se embarcou nesta estratégia de postergar as presidenciais para depois das legislativas foi objectivamente fornecido um trunfo à Direita que desde o início (desde as putativas candidaturas de Guterres, Barroso, Marcelo, etc.) revelou grandes dificuldades de escolher pacificamente um candidato agregador. A vantagem que, à partida, a Esquerda poderia dispor e disfrutar foi, rapidamente, desbaratada. O grande mentor deste ‘escalonamento’ foi Marcelo Rebelo de Sousa que, mais uma vez, emitiu um juízo em causa própria.
Este pormenor estratégico permitiria separar, à nascença, as águas. Se a campanha eleitoral que agora começa cavalgasse esta opção ganharia para toda a Esquerda – e não só para o PS – consistência, solidez e clarificação.
Todavia, esta ‘nuance’ já teve o seu tempo. Morreu!
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