A direita e o poder

O poder é tão apetecido que dificilmente há quem lhe resista. A direita não sabe viver sem ele e na esquerda há quem vire à direita quando o comboio inverte a marcha.

Quando a direita está em crise, os seus amanuenses anunciam que é o regime; quando o poder se afasta, devora o líder, na ânsia de encontrar outro; o próprio PR, quando vê a família a desfazer-se, dá uma ajuda aos atiradores de serviço, a arremessar insinuações; o jornalismo reverente destaca os funcionários mais truculentos a atiçar fogueiras contra a esquerda; nas redes sociais, televisões, jornais, revistas e sarjetas surgem vuvuzelas a provocar ruído e a vociferar calúnias; os pusilânimes não se coíbem a descontextualizar e manipular declarações dos adversários para os debilitarem.

O que fizeram à frase de António Costa nas declarações sobre o fogo de Monchique “… a exceção que confirmou a regra do sucesso da operação, ao longo destes dias”, é digna de figurar num compêndio da aleivosia. Parecia um concurso, a rivalizar em idiotia com a malvadez da desinformação.

No domínio da imbecilidade, houve quem referisse a "desmesurada preocupação com as vidas humanas", para acabar no mestre da intriga, José Gomes Ferreira que, no conforto do estúdio da SIC, se referiu a “o critério político no combate técnico ao fogo”, e, numa manifestação de indigência ética, aparentemente desolado com a ausência de mortes, perguntava: “Porque estão a tirar as pessoas de casa, mesmo contra a sua vontade?”.  Ignora-se se este sólido talento do jornalismo de intriga teve a noção do despautério.

Perante o esforço desta direita, que se desfaz, sem rumo, sem programa e sem liderança, é um dever não deixar que passem incólumes os avençados da manjedoura reacionária e ultraliberal a quem está confiado o assassínio de caráter dos adversários.

A esquerda, no seu conjunto, incluindo a direção do PS, que deixou imolar o seu partido sem explicar a crise cíclica do capitalismo, que originou a falência do Lehman Brothers e abalou o sistema financeiro internacional, com repercussão nas dívidas soberanas dos países mais vulneráveis, ajudou a consolidar a narrativa da direita, que demonizou o PS, que era o governo de turno durante o furacão.

Cabe à esquerda fazer a pedagogia que deve, sem deixar à solta esta direita que Cavaco patrocinou e desesperadamente quis prolongar com Passos Coelho, Maria Luís e Portas, com o último já substituído pela inefável Dr.ª Cristas e o primeiro, ora catedrático, ainda sem substituto ungido pela direita mais à direita, de que António Costa e os partidos à esquerda do PS nos libertaram.

Comentários

Jaime Santos disse…
Quando o líder do PS e PM que esteve à frente dos destinos do País no período de crise está acusado de inúmeros crimes, incluindo corrupção a avenças de um grupo económico e financeiro que entretanto ruiu, convenhamos que não há grande defesa que se possa fazer da governação entre 2005-2011, pois não?

E, mesmo que José Sócrates seja declarado inocente dos crimes e que é acusado no final, cabe lembrar que mentiu à imprensa (e assumiu que mentiu sem mostrar arrependimento) e que teve um comportamento pouco ético que o expôs a ele e a todos os que com ele trabalharam e defenderam ao opróbrio e ao ridículo, como bem notou Fernanda Câncio.

Se houve alguém que no Governo e depois dele deu um bom empurrão à subida da Direita ao poder e à sua manutenção lá, convenhamos que foi mesmo ele.

E francamente, quero lá saber que a Direita esteja cheia de corruptos cujos casos não são devidamente investigados. A sua conduta não desculpa a de Sócrates e mais, sabendo nós como a Esquerda é bem mais penalizada nas urnas pelos casos de corrupção do que a Direita, do que menos precisamos é de líderes que ou são corruptos ou néscios ou ambas as coisas...
Excelente! Com efeito, o PS não fez o suficiente para acabar com
a narrativa da direita que usa da mentira e da baixa política pa-
ra alcançar os seus fins ou seja o Pote para se lambusarem!
Há quem tenha profundos conhecimentos e faça muita fé na imprensa
para falar sem rigor sobre a governação do PS de 2005/11, dado que,
nunca existiu uma crise internacional em 2008, e um ataque às dívi-
das soberanas e a falta de consistência das políticas europeias para
fazer frente ao caso!
Qual o político que nunca mentiu? Se não há crime não pode haver arre-
pendimento! Como é que expôs os que com ele trabalharam? A FC notou
mal e tarde e ficou furiosa pelas gravações de conversas privadas,
onde mostrava estar numa onda maior!!!

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