Ainda o incêndio de Monchique…
O incêndio de Monchique foi dramático e altamente destrutivo e perante os portugueses não se pode dizer que tenha corrido bem. O facto de não existirem vítimas humanas a lamentar é relevante mas não será por si só uma coisa ‘notável’ como o ministro da Administração Interna repetidamente anunciou.
Este incêndio também não foi de encontro aos propósitos da habitual chicana política promovida pela Direita.
Quando o ideólogo do PSD – Paulo Rangel – hoje, no Publico link, acusa o primeiro-ministro de ‘soberba e arrogância’ está certamente a lavar a imagem populista dessa Direita que, há um ano, gritou bombasticamente. “O Estado falhou!”.
Aqui poderá não ser simplesmente ‘soberba e arrogância’ e tratar-se de demagogia barata e irresponsável. Mais uma artimanha – na senda dos ‘suicídios’ inventados por Passos Coelho no ano passado em Pedrogão - para tentar colher dividendos políticos.
Na verdade, a resposta ao extenso e destruidor incêndio de Monchique não sendo ‘notável’ link foi bastante melhor do que habitualmente tem sido feito. Mas é evidente que não chega nem se aproxima de qualquer notabilidade.
A evacuação das populações (agregados familiares) na zona de devastação das chamas revelou-se – apesar de conflitos pontuais – como uma medida acertada. Esta medida não traz nada de novo ou de transcendente face às medidas que devem ser tomadas perante eventuais catástrofes e são a regra no Mundo. E o incêndio de Monchique, dada a sua dimensão, violência, progressão, durabilidade e destruição, configura esta conceção catastrófica.
Resta saber se a Proteção Civil tem planos de contingência para evacuações em eventuais catástrofes (incêndios ou outras) e a quem compete executá-los. Seria perfeitamente (operacionalmente) credível que essas evacuações estivessem a cargo das forças territoriais da GNR ou da PSP.
A ativação de um plano de emergência de evacuação das populações ao empenhar as forças regulares no terreno para além de empenhar os efetivos de proximidade libertaria meios humanos, materiais e técnicos para o esforço de combate ao incêndio. Não se verificou isso.
Muitas das localidades foram evacuadas por forças deslocadas (desconhecedoras da especificidades dos habitats geográficos, paisagísticos e humanos locais) e, pior, o património habitacional edificado ficou – pelo menos em alguns casos - entregue à sua sorte quando seria suposto que a proteção das habitações e instalações anexas de atividades agrícolas, agroflorestais, pecuária, apicultura, etc., seria o complemento (sucedâneo necessário) da evacuação da população residente.
A ativação de um plano de emergência de evacuação das populações ao empenhar as forças regulares no terreno para além de empenhar os efetivos de proximidade libertaria meios humanos, materiais e técnicos para o esforço de combate ao incêndio. Não se verificou isso.
Muitas das localidades foram evacuadas por forças deslocadas (desconhecedoras da especificidades dos habitats geográficos, paisagísticos e humanos locais) e, pior, o património habitacional edificado ficou – pelo menos em alguns casos - entregue à sua sorte quando seria suposto que a proteção das habitações e instalações anexas de atividades agrícolas, agroflorestais, pecuária, apicultura, etc., seria o complemento (sucedâneo necessário) da evacuação da população residente.
Na realidade, a resposta foi – ainda – muito limitada para não dizer incompleta. Não há razões para embandeirar em arco, nem para esgares de ‘notabilidade’. Quando se deslocam as populações para um centro urbano não se pode alimentar a mais remota possibilidade de que o fogo pode invadir esse reduto de acolhimento. Foi isso que ouvimos neste fogo de Monchique: - “as chamas aproximam-se e ameaçam a vila!” (foto).
O aproximar do fogo do centro urbano de acolhimento poderá ser uma inevitabilidade adstrita à evolução do incêndio mas a Proteção Civil tem de garantir que no refúgio escolhido há um mínimo de riscos, i. e., um 'porto seguro'.
A existência de mais de 3 batalhões de operacionais (bombeiros, GIPS e militares) e mais de 3 centenas de veículos de intervenção seria suficiente para garantir a defesa de Monchique e evitar o alarmismo de um hipotético atingimento urbano.
A existência de mais de 3 batalhões de operacionais (bombeiros, GIPS e militares) e mais de 3 centenas de veículos de intervenção seria suficiente para garantir a defesa de Monchique e evitar o alarmismo de um hipotético atingimento urbano.
Sem alinhar pelas ‘notáveis’ conclusões do ministro da Administração Interna é tranquilizador constatar que o incêndio de Monchique não causou vítimas humanas.
Todavia, não chega. É necessário eliminar ou reduzir ao mínimo as perdas de património – habitacional, económico, ambiental e, por fim, florestal. Trabalhos ciclópicos que demorarão muitos anos, muitas reestruturações, muitos reordenamentos, muita aquisição de conhecimento, muita formação e muito treino. Entretanto, a Direita vai fazendo a sua chicana política…
Comentários
Se o proprietário não cumprir, o Estado faz essas obras e debita o custo delas ao proprietário. Se a fatura não for paga o Estado toma posse do prédio e vende-o em hasta pública, para liquidar a dívida.
A mesma situação para um prédio rústico que põe em perigo a saúde pública é tratada de forma diferente EM NOME DA DEFESA INTRANSIGENTE DO DIREITO À PROPRIEDADE PRIVADA.
Alguém me explica isto?
A 'caça à proteção civil' não será uma atividade política (ou venatória) do Governo mas quando muito uma choça corporativa - e demagógica - do Jaime Marta Soares...