São raras as tragédias comuns a todo um povo, mas e a guerra colonial portuguesa é a que, ainda hoje, dilacera a memória coletiva de um país incapaz de fazer a sua catarse. Uns pretendem-se heróis porque combateram em pátria alheia, convencidos de que era a sua que defendiam; outros, com posses económicas, ufanam-se de terem emigrado, para estudarem e esperarem calmamente o fim da guerra, enquanto militavam em partidos de extrema-esquerda, sem risco, para voltarem aos braços da direita de onde saíram; houve ainda os que desertaram, num ato de enorme coragem, que, em Portugal, arriscaram a prisão e a tortura, e, no teatro de guerra, o mais alto perigo de vida. De todos, os que se organizaram na resistência à ditadura e na luta contra a guerra colonial, foram os únicos dos que fugiram que merecem o respeito de quem luta por ideais. No fundo, os que libertaram o país da mais longa ditadura europeia, os que arriscaram a vida numa manhã de Abril, foram os que fizeram a guerra e ficara