Ainda a guerra colonial e outras guerras

São raras as tragédias comuns a todo um povo, mas e a guerra colonial portuguesa é a que, ainda hoje, dilacera a memória coletiva de um país incapaz de fazer a sua catarse.

Uns pretendem-se heróis porque combateram em pátria alheia, convencidos de que era a sua que defendiam; outros, com posses económicas, ufanam-se de terem emigrado, para estudarem e esperarem calmamente o fim da guerra, enquanto militavam em partidos de extrema-esquerda, sem risco, para voltarem aos braços da direita de onde saíram; houve ainda os que desertaram, num ato de enorme coragem, que, em Portugal, arriscaram a prisão e a tortura, e, no teatro de guerra, o mais alto perigo de vida. De todos, os que se organizaram na resistência à ditadura e na luta contra a guerra colonial, foram os únicos dos que fugiram que merecem o respeito de quem luta por ideais.

No fundo, os que libertaram o país da mais longa ditadura europeia, os que arriscaram a vida numa manhã de Abril, foram os que fizeram a guerra e ficaram, para escreverem a mais bela página da História de Portugal dos últimos cem anos.

Os presos, degredados, exilados, clandestinos, perseguidos e torturados foram os heróis civis de Abril, cujo exemplo frutificou. Os outros, os que regressaram para colher frutos da árvore que não plantaram e acabaram, depois de fazerem pela vida, como ideólogos da direita, são os parasitas de todas as Revoluções, os videirinhos de serviço, cachaços dobrados às veneras que Cavaco concedeu aos trânsfugas, burgueses que se instalaram na comunicação social e na intriga.

Os que suportaram a guerra colonial, sem disso se orgulharem ou exigirem benefícios, morrem sem conseguir desmascarar a corja de parasitas e oportunistas que ainda vivem.

A guerra foi aquela tragédia que deixou o povo a sangrar por dentro e com fraturas que não cicatrizam, quantas vezes confundindo os algozes e os mártires, sem esquecer quase um milhão de vítimas cuja integração no seu país, apesar dos traumas, é uma das mais honrosas páginas escritas pelo povo português.

Não é deslocado regressar a este a tema quando as vítimas da Venezuela vêm à procura de paz e sobrevivência que temos obrigação de lhes garantir, sem procurar contabilizar os danos eleitorais que o seu voto de revolta vai provocar nas Regiões Autónomas.

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