BRASIL: The day after…


A Republica Federativa do Brasil começa hoje a digestão de um conturbado processo de mudança política cujas consequências são desconhecidas na sua amplitude e dimensão. Um salto no escuro.

Na verdade, poderá não tratar-se só de uma mudança rotineira - a conhecida alternância democrática - onde um ciclo de governos de Esquerda é substituído por um outro de Direita.
Na realidade, muitos brasileiros e brasileiras – no que são acompanhados por muitos cidadãos do Mundo – manifestam fundadas dúvidas se o ‘novo ciclo’ não afundará as instituições democráticas brasileiras, ditadas pelo fim da ditadura militar e expressas na Constituição de 1988, num novo período de trevas e violência.
Claro que a mudança ocorrida dentro da grandiosidade de uma vasta União tem pesos e contrapesos que dificilmente serão pacificamente ultrapassados (violados) no quadro parlamentar existente.
 
O novo Presidente da União não dispõe de uma maioria no Congresso que lhe permita impor o seu ‘programa ultra-direitista e populista’ e tem dois caminhos. Ou negoceia alinhando na corda bamba corruptiva em franca ebulição - e caímos no ‘mais do mesmo’ -, ou tenta impor-se pela força e abre uma crise de continuidade do regime saído a ditadura militar. Interessa saber como e com que metodologia serão dirimidos os previsíveis conflitos institucionais e contornadas as profundas contradições políticas que esta eleição encerra.
De concreto, ressalta a olímpica impreparação do candidato vencedor para estas tarefas de sustentação e preservação do regime democrático tal como hoje existe no Brasil.

Jair Bolsonaro ao vencer as eleições presidenciais brasileiras abriu uma caixa de Pandora em relação às instituições democráticas brasileiras as quais, durante a campanha eleitoral, foram sistematicamente questionadas, quando não desrespeitadas.

Mesmo que acreditemos que as instituições democráticas resistirão à ‘investida Bolsonaro’ – o que não é um dado adquirido - resta por apurar se a aplicação de um programa político neoliberalizante será capaz de resolver as profundas assimetrias económicas e sociais do Brasil, onde a pobreza ocupa um lugar de destaque.
Da experiência adquirida - que não é assim tão pouca - verifica-se que a aplicação de políticas neoliberais conduz invariavelmente a um aprofundamento das desigualdades sociais e ao empobrecimento (e desaparecimento) da dita ‘classe média’.
Ora, na eventualidade de suceder este encandeamento de consequências - a já enorme bolsa de pobreza que hoje é um dos maiores problemas brasileiros terá tendência a crescer (ainda mais) - o que será um fator politicamente insuportável para a estabilidade do regime democrático. A velada ameaça à democracia espreita também vinda dos terrenos de uma ‘ingovernabilidade’ (histórica).

Finalmente, estas eleições vão necessariamente determinar a reorganização partidária do espaço político brasileiro.
Para a Esquerda (com toda a panóplia de partidos) o desafio está lançado e começou a era ‘pós-lulismo’.
Para a Direita, Bolsonaro, não tem condições humanas e sociais, nem pergaminhos políticos, nem idoneidade intelectual para encabeçar uma nova era e quando muito será um efémero episódio de transição (um acidente de percurso). 
O dito Centro vai ser confrontado com um paulatino esvaziamento que o desaparecimento da classe média determinará e muitos cidadãos (empobrecidos) vão ‘encostar-se’ quer à Direita, quer à Esquerda em conformidade com fatores geográficos, culturais e até étnicos e expectativas de retomar a 'escada social'.

Dificilmente o Brasil escapará a uma convulsão político-social e a reorganização partidária não será rápida nem se apresenta como pacifica.
Estas as consequências mais visíveis decorrentes da eleição deste último domingo. Mas não serão as únicas.

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