PORTUGAL e as Eleições Europeias - 2019
As eleições europeias trouxeram alguma clarificação interna mas são um desastre ao nível do futuro da União. Esta contradição entre o âmbito nacional e o europeu não deve ser esquecida nem comemorada porque não tardará a trazer problemas.
No plano interno tudo está condicionado por uma expressiva abstenção o que poderá enviesar a capacidade de interpretar os resultados. Há, contudo - e desde já - algumas ilações a tirar.
Desde a derrota clamorosa da Direita (CDS + PSD) à vitória do PS e às incontornáveis alterações na relação de forças no espectro partidário da Esquerda (BE e o PCP) parece existir um fio condutor que reflete a evolução partidária recente e o 'clima político' nacional.
Em primeiro lugar, estas eleições marcaram a continuidade da configuração estrutural do espectro partidário português e será de salientar que o afundamento da Direita ‘clássica’ não se processou com o ‘engordar’ da extrema-direita (seja a ‘nova’ populista ou a 'velha' fascizante).
A Direita está a definhar vítima das suas contradições ideológicas e da quixotesca busca por uma geometria partidária equidistante, dita 'centrista', que é incoerente, equilibrista e simultaneamente retrógrada, isto é, acaba tolerando a extrema-direita e exorcizando tudo o que cheire a Esquerda. Esse malabarismo equilibrista (não é 'ilusionista' como os 'passistas' o querem definir para a Esquerda)deriva em consequência dos compromissos que historicamente assumiu em nome do capitalismo, que não consegue (nem quererá) libertar-se e, de facto, empurrou-a – nos tempos presentes - para se absorver (direta ou disfarçadamente) na canibalização, no altar do neoliberalismo, de um conjunto de conquistas económicas, sociais e culturais entretanto adquiridas, com os resultados (ónus) conhecidos.
Novas opções que se lançaram na corrida à volta do ‘espectro liberal’ como o Aliança, a Iniciativa Liberal e o Nós, Cidadãos não conquistaram eleitorado nem influenciaram o debate político. O liberalismo em Portugal continua historicamente a alimentar-se de múltiplos fantasmas que começam na histórica tragédia sebastianista e, no presente, não tem qualquer linha de continuidade com (neo)formações partidárias (absoluta e decididamente) unipessoais.
À Esquerda embora estejam mantidos equilíbrios quantitativos existem alterações qualitativas que não podem ser escamoteadas.
O PS foi o principal beneficiário da solução política encontrada no final de 2015 o que aparentemente não é inesperado, nem será uma novidade. A nova política encetada pelo PS de António Costa que destruiu o anacrónico ‘arco de poder’ teria de dar resultados face ao imobilismo miserabilista da Direita que continua a anunciar o diabo e a martelar soluções mercantis (cujos resultados já sentimos na pele).
O PS recolhe dividendos eleitorais por revelado alguma capacidade em enfrentar o ‘status quo’ mas a retribuição popular a essa 'ousadia' não se estende a toda a Esquerda, dado continuarem à solta muitos dos demónios do antigamente.
A relação de forças entre o PCP e o BE que foi muito explorada na noite eleitoral manteve no essencial as variações que se têm observado nos tempos recentes e podendo não assumir especial significado, verifica-se o paulatino esvaziamento do PCP (quer global, quer face à emergência do BE), esta circunstância deverá provocar uma cuidada análise já que será pouco avisado ignorar uma ‘pesada herança’, nomeadamente europeia, acerca de passadas alianças governativas entre os partidos da social-democracia, do socialismo e comunistas, com os resultados que todos conhecemos.
Este é ‘o sinal de alerta’ que Jerónimo de Sousa expressou nas declarações proferidas durante a última noite eleitoral.
Existe, para além disso, uma situação relevante e inexplicável nos resultados eleitorais de ontem em relação ao PCP: a queda numérica do número de votos expressos num partido de forte militância e aparentemente capaz de resistir aos danos abstencionistas.
Existe, para além disso, uma situação relevante e inexplicável nos resultados eleitorais de ontem em relação ao PCP: a queda numérica do número de votos expressos num partido de forte militância e aparentemente capaz de resistir aos danos abstencionistas.
Por último, a emergência europeia do PAN revela que a ‘vaga ambiental’ que se sente pela Europa começa a influenciar o País e faz crescer um eclético ‘green movement’ que está determinado em saltar para fora dos partidos clássicos, demasiados comprometidos com o ‘status quo’ vigente. Esta foi sem sombra de dúvidas a nota de (aparente) modernidade no âmbito nacional destas eleições europeias de 2019, mas a ‘caminhada ecológica’ em relação à influência na tomada de decisões políticas ainda está na primeira-infância e, portanto, muito ‘verde’ e, para além disso, interessaria definir o contexto global onde se movimentam estes grupos.
Finalmente, a situação da União, após estas eleições, também sofreu alterações e merece por questões metodológicas e de espaço uma abordagem específica e à parte já que poderão vir daí os grandes desafios e as maiores ameaças relativos à complexa situação europeia.
Comentários
Tenham juízo e atenham-se aos factos.
O número de deputados da CDU mudou. Eram 3 e ficaram 2, sendo o segundo o último escrutinado.
Embora não atribua um significado linear - as condições políticas há 5 anos eram substancialmente diferentes - tenho de contabilizar que, no contexto específico das eleições europeias (e fiquemos por aqui), entre 2015 e 2019, a CDU perdeu mais de 180.000 votantes (ou seja quase metade do eleitorado).
Claro que existem causas colaterais que deverão ser (politicamente) dissecadas, mas não será avisado iludir os números.