Associação 25 de Abril
25 de Novembro
General Pedro Pezarat Correia
Car@(s) Associad@(s)
Pela sua oportunidade e relevância, e porque o subscrevemos, divulgamos um texto do nosso associado, general Pedro Pezarat Correia.
Sugerimos que o leiam, nele meditem e estejam atentos às ameaças que se movem no nosso País, contra a democracia.
Como vemos cada vez mais, não é só lá fora, no estrangeiro, que as forças radicais e não democráticas estão a avançar!
Aqui, no nosso Portugal também começam a deitar as garras de fora!
Daí, a necessidade de estarmos alerta, para lhes cortar essas garras!
Cordiais saudações
Vasco Lourenço
25 DE NOVEMBRO
Uma data a assinalar, mas não a comemorar. Em 1975 foi um marco negativo no Processo Revolucionário, vulgo PREC, porque pôs em confronto militares do MFA e cindiu a sociedade portuguesa empenhada no 25 de Abril. Cisão tão profunda que ainda hoje a divide, na sua interpretação, na análise das suas causas, na responsabilidade dos seus atores, na valorização das suas consequências. Foi um caso fraturante e, como muito bem terá a propósito dito Ramalho Eanes, os acontecimentos fraturantes assinalam-se, mas não se comemoram.
Pretendem alguns que, por preconceito, não conseguem rever-se no 25 de Abril, que sem o 25 de Novembro não se teria consolidado a democracia e a liberdade. Falso. A democracia e a liberdade vingaram não por causa do 25 de Novembro, mas apesar do 25 de Novembro. Como apesar do 28 de Setembro, como apesar do 11 de Março. Foram acidentes de percurso na complexa dinâmica do PREC, derivados do 25 de Abril, no qual se inscreveram e fora do qual não têm existência autónoma. O 25 de Abril sim, foi a rotura estruturante que iniciou uma era e existe por si. A liberdade e a democracia consolidaram-se porque estavam na génese, no ADN e no projeto do 25 de Abril.
É significativo quem, 44 anos depois, quer recuperar e apropriar-se do 25 de Novembro. O CHEGA, num oportunismo serôdio, não tem coragem de dizer ao que vem, o que realmente o move – a condenação do 25 de Abril. É o eco dos derrotados de Abril, dos que entenderam o 25 de Novembro como o dia da vingança, do ajuste de contas. Ainda é cedo para recuperar o 28 de Maio, contenta-se com o 25 de Novembro. E é acompanhado pelo CDS, mas deste a ânsia de apropriação é mais antiga. E também se percebe por quê. Apesar de nele não ter tido qualquer intervenção foi o que lhe permitiu libertar-se do papel de “parceiro envergonhado” que lhe coubera desde o 25 de Abril. Conferiu-lhe respeitabilidade, escancarou-lhe as portas para acesso ao poder e recuperação de privilégios de tantos apoiantes e dos que nele viam o mal menor. O CDS precisa da sua data, não vai chegar ao 28 de Maio, basta-lhe o “seu” 25 de Novembro.
O CHEGA não tardou a mostrar ao que veio, a sua vocação para se apropriar de casos e dinâmicas sociais que não são suas, infiltrando-as e desvirtuando-as. A este propósito, justifica-se uma breve referência à manifestação das forças de segurança do passado dia 20. Considero-a uma das jornadas mais preocupantes que me tem sido dado assistir em Portugal desde que está em marcha, a nível global, o avanço da extrema-direita populista, xenófoba, racista. Tema que me vem merecendo alguns reparos nestas notas semanais.
Surpreendeu-me, mas pareceu-me óbvia, a forte infiltração do CHEGA na PSP e na GNR, cuja manifestação despudoradamente capturou através do “movimento zero”, que se sobrepôs às estruturas sindicais supostamente organizadoras. É fácil, a estes movimentos populistas, apropriarem-se de reivindicações justas dos manifestantes. Mas chocou a manipulação da manifestação, o peso das Tshirts do movimento, a exibição gestual do símbolo do white power, a ofensa das costas viradas ao Parlamento, a “oportuna” e aplaudida comparência do deputado do CHEGA com Tshirt do movimento zero e o provocador convite para usar da palavra na tribuna. As reivindicações dos agentes passaram a plano secundário. Nada disto terá sido por acaso, inocente. Tudo cheira a conluio entre partido e movimento que, aliás, sabe-se agora, terão mútuas cumplicidades. Notório foi o incómodo de dirigentes sindicais da PSP e GNR, posteriormente ouvidos em estações de TV, sem conseguirem explicar o injustificável, ou seja, a forma notória como se deixaram ultrapassar por um movimento sem rosto.
Lamento mas, a partir de agora, terei de ser menos reticente às acusações de racismo e duplicidade de critérios que recaem sobre algumas intervenções policiais em bairros periféricos dos grandes centros urbanos. Corporações altamente infiltradas por este suspeito e inorgânico movimento zero e por um partido xenófobo, justificam reservas de isenção. Sei que há na PSP e GNR muitos profissionais, em todos os escalões, dignos e merecedores de respeito e credibilidade. Mas o sinal “apropriador” evidenciado na manifestação é um alerta, de que terão de se demarcar.
Ao poder político, certamente, mas também às hierarquias cabe uma enorme responsabilidade perante esta ameaça à sociedade democrática.
Quero confiar nelas.
25 de Novembro de 2019
Comentários
Excelente texto do Sr. general Pezarat Correia. Felicito-o por tal, bem como ao Carlos pela sua divulgação.
João Pedro