Marques Mendes, bruxo de Fafe_2 – Quando a intriga se torna notícia

O oráculo de Delfos, do templo de Apolo, numa das encostas do monte Parnaso, foi um dos mais conceituados e fiáveis da antiga Grécia. A própria pitonisa, foi respeitadíssima pelas suas profecias, e a invulgar importância dessa mulher, num ramo dominado pelos homens, deveu-o ao facto de ser igualmente vista como inspirada por Apolo.

Ignoro se Marques Mendes se fez dono do oráculo da SIC através das formas cruentas dos deuses gregos, e pode acontecer-lhe, que os deuses o não permitam, que o próprio Apolo queira o lugar do oráculo e lhe faça o que fez à Pitonisa.

O oráculo de Delfos exerceu o múnus durante doze séculos e foi registada a sua última profecia quando o imperador Teodósio ordenou o encerramento dos templos pagãos, a impedir a concorrência ao cristianismo que, desde Constantino, ascendia nos negócios da fé, em regime de exclusividade, por necessidade de aglutinação do Imperio Romano.

Desgostar-me-ia ver o virtuoso Marques Mendes silenciado por perseguição à bruxaria, astrologia, quiromancia, lançamento de pedrinhas ou de búzios e a ofícios correlativos.

Delfos foi encerrado por um imperador mais poderoso do que Apolo, a SIC pode falir. O deus dinheiro é mais poderoso do que qualquer imperador ou deus. O que incomoda em Marques Mendes, sem pós nem álcoois, ao contrário dos oráculos gregos, envoltos em vapores, é não se saber se profetiza inspirado por Apolo, de quem é escolha pessoal, como oráculo da Rua de Santana à Lapa, por encomenda do templo de Balsemão ou se intriga por conta própria.

Registo a frase que ecoou nas gazetas, nos canais televisivos, nas estações de rádio e nas sargetas das redes sociais:

«Ministro das Finanças estará descontente por ter sido despromovido e deverá sair no próximo ano para o lugar de Carlos Costa no Banco de Portugal.»

Repare-se na utilização do futuro do indicativo e no modo dubitativo da profecia, como convém aos oráculos, e no registo igual com que o bruxo anuncia o futuro do ministro. Só a conivência e a preguiça mental podem dar guarida à estultícia da profecia. Poderia o ministro ocupar o lugar cuja proposta depende em absoluto da entidade que na intriga é o responsável pelo alegado descontentamento?

Sem proposta do PM e anuência do PR não é possível ser-se Governador do BP. Parece que a condição ‘sine qua non’ é desconhecida dos média, e a profecia passa de intriga a notícia.

«Elementar, meu caro Watson», mas, tal como a frase que não foi escrita por Sherlock Holmes, a quem é atribuída, também as deduções de Marques Mendes são de cabeça alheia ou de cabeça perdida

Pensar é um hábito anacrónico. E perigoso.

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