Eleições em Espanha – Consummatum est

De eleição em eleição até à derrota final da democracia, com a indiferença dos eleitores moderados e o aproveitamento dos franquistas, o Estado esboroa-se.

A Espanha não teve um processo revolucionário, nem a madrugada sem sangue seria ali possível. Não foram os militares que ofereceram a democracia aos espanhóis, foram as negociações difíceis entre Adolfo Suarez, com visão de futuro e sentido do possível, e franquistas liderados por Fraga Iribarne, a aceitarem uma constituição pluripartidária.

As sondagens davam larga preferência à República, e os falangistas não consentiam que as últimas vontades do ditador fossem contrariadas. Comunistas, socialistas, centristas e o PP aceitaram, como chefe de Estado, o Bourbon saído das madraças franquistas.

As Forças Armadas, os Tribunais e a Igreja católica, solidamente franquistas, ficaram incólumes. Aznar, ligado ao Opus Dei e aos sectores mais reacionários, conseguiu, por eleições, ser primeiro-ministro, o que Fraga não conseguia. Reforçou o poder da Igreja e dos herdeiros ideológicos da ditadura.

Perante a explosão de nacionalismos internos, cujo caso extremo é o da Catalunha, está aí o VOX a interpretar o nacionalismo castelhano e a nostalgia franquista, sedento de ódio, nostálgico do garrote e dos fuzilamentos, com Tribunais pouco recomendáveis.

O PP, envolto numa teia de corrupção, encontrou no modo VOX e na herança de Aznar o seu posicionamento político.

A Espanha, aqui tão perto, é um estímulo para o recrudescimento do fascismo que surge na explosão eleitoral do VOX, na vitória ténue do PSOE, na dificuldade de diálogo com o Podemos e no apagamento do Ciudadanos. Os partidos regionais são um obstáculo a juntar a outros.

A Espanha está num novo impasse, a democracia ameaçada, a Monarquia em descrédito e o futuro adiado. A ilegalização de partidos independentistas é o combustível esperado por todos os extremistas.

A pátria de Cervantes e Unamuno está em perigo e eu fico inquieto porque “a democracia é o pior dos regimes, com exceção de todos os outros”.

Vou reler pela enésima vez as "Causas da Decadência dos Povos Peninsulares". Vale a pena regressar a Antero de Quental. 

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