Contra a corrente – Ser ou não ser europeísta
A União Europeia foi o mais ambicioso projeto nascido do desejo de paz e liberdade de um continente que trocou as guerras pela paz, os regimes autoritários pela democracia e o subdesenvolvimento pelo progresso.
Nos escombros da guerra de 1939/45 houve quem sonhasse um futuro solidário de paz e prosperidade onde a integração progressiva dos povos, atenuados os traumas sangrentos e devastadores da maior das guerras, desse lugar à felicidade dos povos e, em vez de se discutirem fronteiras, estas se abrissem à livre circulação de pessoas e bens.
A tragédia voltou com os egoísmos nacionais, com o proselitismo religioso a servir de apoio aos interesses comerciais dos países mais poderosos, com demónios identitários a demolirem uma construção que representou a correlação de forças do pós-guerra, e que funcionava e tinha condições de sobrevivência.
A fragmentação da Jugoslávia foi o primeiro crime cometido e os interesses divergentes começaram a corroer os países com a lepra nacionalista a alastrar como mancha de óleo na Europa que esqueceu o sofrimento e a tragédia de uma geração sacrificada à loucura do nazi-fascismo.
A Sérvia com um passado de sofrimento e heroicidade na defesa da Europa e dos seus valores civilizacionais foi uma vítima da estratégia alheia. O Kosovo é uma ferida que sangra num país sucessivamente traído e devastado.
Hoje, o problema não é o desenvolvimento, as árvores não crescem até ao céu, o PIB é o detalhe na felicidade dos povos e tem um teto que as crises cíclicas se encarregam de fazer regredir para criar novas ilusões até à crise seguinte. O problema é a felicidade dos povos e a paz é a sua componente mais preciosa.
O cosmopolitismo está a ser substituído pelo tribalismo, os países a serem corroídos por forças centrífugas que os desagregam, a civilização herdeira do Iluminismo a ser varrida pelo comunitarismo, a ciência a dar lugar à superstição e a medicina a ser trocada pelas crendices de medicinas alternativas.
As independências reclamadas, do Reino Unido à Córsega, da Itália do Norte à Valónia, da Catalunha à Escócia, da Flandres ao Kosovo, são a destruição da Europa que, bem ou mal, saiu da guerra com a promessa de manter inalteradas as fronteiras. E foi traída.
Sabe-se como os nacionalismos começam, e não como acabam. Às vezes acontecem de forma suave, na Chéquia e na Eslováquia, mas quase sempre com um banho de sangue para satisfazer cliques locais e interesses alheios aos das vítimas.
A União Europeia não sobreviverá às contradições internas se à moeda única e à livre circulação de capitais não adicionar a harmonização fiscal, económica, social e política, com diplomacia comum e forças armadas unificadas.
Calculo o azedume, prurido e ranger de dentes que alegados séculos de História comum instigam em quem ignora os perigos do nacionalismo e esquece a formação recente dos países, fruto de guerras de unificação, quando o direito divino e a via uterina deixaram de ser justificação para a geometria variável dos impérios.
A Europa, desprezada por Trump ou, pior, cobiçados por ele os seus mercados, está hoje desprotegida, com a Rússia e a Turquia a ameaçá-la, com o proselitismo religioso de fés concorrentes a disputá-la e sem uma estratégia conjunta para competir com os grandes blocos em vez de se dilacerar com o entusiasmo dos néscios e o aventureirismo dos nacionalistas.
Quem lutou contra a ditadura de um país orgulhosamente só, prefere a harmonia de uma potência comum, que resista ao assédio da China, EUA e Rússia e regresse à referência civilizacional europeia com as democracias representativas que a integram.
Eu continuo a ser europeísta, pretendo uma Europa federadora de países, eventualmente federados, capaz de fazer a transição para uma economia descarbonizada e onde ao PIB se sobreponha a Liberdade, Igualdade e Fraternidade que a Revolução Francesa sonhou.
É fácil alterar fronteiras, difícil é fazê-lo sem sangue e intolerável sofrimento.
Nos escombros da guerra de 1939/45 houve quem sonhasse um futuro solidário de paz e prosperidade onde a integração progressiva dos povos, atenuados os traumas sangrentos e devastadores da maior das guerras, desse lugar à felicidade dos povos e, em vez de se discutirem fronteiras, estas se abrissem à livre circulação de pessoas e bens.
A tragédia voltou com os egoísmos nacionais, com o proselitismo religioso a servir de apoio aos interesses comerciais dos países mais poderosos, com demónios identitários a demolirem uma construção que representou a correlação de forças do pós-guerra, e que funcionava e tinha condições de sobrevivência.
A fragmentação da Jugoslávia foi o primeiro crime cometido e os interesses divergentes começaram a corroer os países com a lepra nacionalista a alastrar como mancha de óleo na Europa que esqueceu o sofrimento e a tragédia de uma geração sacrificada à loucura do nazi-fascismo.
A Sérvia com um passado de sofrimento e heroicidade na defesa da Europa e dos seus valores civilizacionais foi uma vítima da estratégia alheia. O Kosovo é uma ferida que sangra num país sucessivamente traído e devastado.
Hoje, o problema não é o desenvolvimento, as árvores não crescem até ao céu, o PIB é o detalhe na felicidade dos povos e tem um teto que as crises cíclicas se encarregam de fazer regredir para criar novas ilusões até à crise seguinte. O problema é a felicidade dos povos e a paz é a sua componente mais preciosa.
O cosmopolitismo está a ser substituído pelo tribalismo, os países a serem corroídos por forças centrífugas que os desagregam, a civilização herdeira do Iluminismo a ser varrida pelo comunitarismo, a ciência a dar lugar à superstição e a medicina a ser trocada pelas crendices de medicinas alternativas.
As independências reclamadas, do Reino Unido à Córsega, da Itália do Norte à Valónia, da Catalunha à Escócia, da Flandres ao Kosovo, são a destruição da Europa que, bem ou mal, saiu da guerra com a promessa de manter inalteradas as fronteiras. E foi traída.
Sabe-se como os nacionalismos começam, e não como acabam. Às vezes acontecem de forma suave, na Chéquia e na Eslováquia, mas quase sempre com um banho de sangue para satisfazer cliques locais e interesses alheios aos das vítimas.
A União Europeia não sobreviverá às contradições internas se à moeda única e à livre circulação de capitais não adicionar a harmonização fiscal, económica, social e política, com diplomacia comum e forças armadas unificadas.
Calculo o azedume, prurido e ranger de dentes que alegados séculos de História comum instigam em quem ignora os perigos do nacionalismo e esquece a formação recente dos países, fruto de guerras de unificação, quando o direito divino e a via uterina deixaram de ser justificação para a geometria variável dos impérios.
A Europa, desprezada por Trump ou, pior, cobiçados por ele os seus mercados, está hoje desprotegida, com a Rússia e a Turquia a ameaçá-la, com o proselitismo religioso de fés concorrentes a disputá-la e sem uma estratégia conjunta para competir com os grandes blocos em vez de se dilacerar com o entusiasmo dos néscios e o aventureirismo dos nacionalistas.
Quem lutou contra a ditadura de um país orgulhosamente só, prefere a harmonia de uma potência comum, que resista ao assédio da China, EUA e Rússia e regresse à referência civilizacional europeia com as democracias representativas que a integram.
Eu continuo a ser europeísta, pretendo uma Europa federadora de países, eventualmente federados, capaz de fazer a transição para uma economia descarbonizada e onde ao PIB se sobreponha a Liberdade, Igualdade e Fraternidade que a Revolução Francesa sonhou.
É fácil alterar fronteiras, difícil é fazê-lo sem sangue e intolerável sofrimento.
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