Cavaco Silva e a social-democracia
Cavaco Silva, a dizer que só os seus governos aplicaram o modelo da social-democracia e que não é de esquerda nem de direita, ignora que a social-democracia é de esquerda e, não a distinguindo do neoliberalismo, mostra que já nem de economia sabe.
A obstinada presunção de dois catedráticos, um por decreto e outro por convite, Cavaco e Passos Coelho, a assumirem-se “social-democratas, sempre!”, deixa-nos a convicção de que estamos perante ignorados teóricos de uma desconhecida neo-social-democracia.
Não resisto a repetir um texto, sob o título em epígrafe, escrito em 10 de outubro do ano passado sobre o primeiro salazarista, que periodicamente abandona a defunção política, pela porta da literatura, para a intriga político-partidária e a medíocre contribuição para a história da economia.
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Andava o homem que menos deu à democracia, e dela mais recebeu, a fruir a sua doce aposentação, recheada de pingues e múltiplas pensões, que lhe permitem fazer face às despesas, quando fez prova de vida, após as últimas eleições legislativas.
Não percebe que a popularidade de Marcelo se deve ao alívio da sua saída de cena, além de não se envergonhar de ler livros, de ser inteligente e culto, e aceitar o veredicto eleitoral, por mais que lhe custe, sem mostrar ódio ou ressentimento.
Veio mostrar-se “entristecido” com o resultado do PSD que ele próprio descaracterizou e radicalizou com outro militante pouco dado à leitura, o agora seu colega catedrático, Passos Coelho, e acabou a fazer a Rui Rio o que fez a Santana Lopes, e a dar conselhos: “é urgente mobilizar os militantes que se afastaram e que foram afastados, como a ex-ministra Maria Luís Albuquerque”, sem entender que a sua referência a queima.
Tendo da ética uma rudimentar ideia, preferia Durão Barroso
a Marcelo para o substituir em Belém, e agora Maria Luís para apear Rui Rio,
sem ver que ninguém faria melhor depois do governo a que não queria dar posse,
prejudicando o País com os perigos que ululava, governo que acabou com a
popularidade que as urnas sufragaram.
Cavaco apoiou para PR o cúmplice do crime da invasão do Iraque, o que teve o elevado cargo de presidente da Comissão Europeia, e o desonrou com os negócios pessoais com o banco Goldman Sachs, propôs e defendeu a candidatura de Kristalina Georgieva, agora no FMI, contra Guterres. Não precisava do seu apoio para ser detestado no País.
Cavaco garantiu o caos, amplamente desmentido, com a leviandade com que garantiu a solidez do GES/BES e a qualidade de Maria Luís a quem deu posse como ministra das Finanças, sem Governo, durante a “demissão irrevogável” de Portas, que não a julgava capaz. Sobreviveu aos diabolizados swaps, que negociou pelos privados, foi responsável pela tragédia da resolução do BES, uma experiência ruinosa, e pelas privatizações mais trágicas, e acabou a transitar do Governo para um fundo abutre inglês mantendo o lugar de deputada na AR.
É esta gente que Cavaco defende quando podia estar a gozar em silêncio os negócios felizes das ações da SLN e a permuta da vivenda Mariani pela Gaivota Azul.
Quando Cavaco elogia alguém soam campainhas de alarme sobre
os defeitos da pessoa. É o ativo mais tóxico do PSD, onde foi chefe de fação.
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