O Conselheiro de Estado e as calúnias
A imunidade do cargo dá-lhe tranquilidade e permite-lhe pensar na eficácia das homilias semanais onde, de forma inteligente e astuciosa, procura devolver a direita ao poder.
Não há um caso, por muito esclarecido que esteja, que o comentador não aproveite para lançar suspeitas sobre o governo e o carácter do PM. Se um jornalista é despedido de um canal televisivo, insinua que teve dedo do PM; se um funcionário termina o mandato e não é reconduzido, afirma que é um despedimento escandaloso; se o Governo exerce o seu direito a uma nomeação, é emprego para um amigo.
O caso da ex-PGR, cujo mandato a própria considerava único, tal como o constitucionalista Marcelo Rebelo de Sousa o anotara, quando do ampliação da duração, voltou à colação como despedimento escandaloso, com o jornalista, Manuel Carvalho, a escrever um artiguelho no Público de anteontem, designado Editorial, «Quem se meter com o PS leva?», a corroborar Marques Mendes e ampliar a campanha suja sobre o assunto clarificado e que, então, calaram após o apoio de Marcelo.
Quando a luta partidária se agudiza nesta situação de desespero, com a pandemia e a sua devastadora influência na economia a empurrarem-nos para o abismo, a oferta televisiva é ocupada quase exclusivamente por jornalistas neoliberais e líderes partidários.
Quem queira conservar uma sinecura já sabe que convém dizer mal do Governo no fim do mandato, para que lho renovem ou, no mínimo, para que a direita não se esqueça.
É neste ambiente malsão que os demagogos e os oportunistas exploram como corrupção o regular exercício de competências num ambiente de intimidação e chantagem para que o Governo se sinta manietado.
O governo está preso na teia urdida por Passos Coelho e Paulo Portas com a conivência de Cavaco, tendo como tecedores de calúnias alguns dos mais venais comentadores, e falta uma opinião pública informada para distinguir a corrupção, cujo combate é vital, da livre tomada de opções políticas que são imperiosas e inadiáveis.
O caso da nomeação do novo presidente do Tribunal de Contas, após o fim do mandato do anterior, parece a repetição do caso das escutas, então saídas do gabinete de Cavaco, agora da perfídia de Marques Mendes.
Marques Mendes é o Fernando Lima e o diretor do Público é Manuel Carvalho, em vez de José Manuel Fernandes, e a intriga que as redes sociais ampliam é semelhante.
O PM já esclareceu que o Governo e o PR fixaram, como critério, a não renovação para cargos de natureza judiciária, mas aos factos os intriguistas preferem a calúnia.
Marques Mendes e Manuel Carvalho não pedirão desculpa. Consideram que a escola de Trump permite a pós-verdade pusilânime como jornalismo de referência.
Ponte Europa / Sorumbático
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