Notas Soltas – setembro/2020

 Charlie Hebdo – Começou, em Paris, o julgamento dos acusados do massacre dos cartunistas do jornal satírico e de outros atos terroristas. O julgamento dos homicidas é também o da ideologia religiosa que os motivou.

Al-Qaeda – A ameaça ao jornal Charlie Hebdo, após nova publicação das caricaturas de Maomé, é uma manifestação da intolerância religiosa, o ataque à liberdade de expressão por terroristas beatos que querem impor uma civilização falhada através do terror pio.

Reino Unido – A insólita acusação de Boris Jonhson ao líder trabalhista, Keir Starmer, de ser cúmplice do IRA, sem provas e comprovadamente falsa, no Parlamento, revelou que o PM britânico é capaz de todas as vilanias para se manter no poder.

Cidadania – O abaixo-assinado contra a obrigatoriedade desta disciplina escolar é uma contestação que desprestigia os subscritores, como se a cidadania, tal como as vacinas e as medidas de higiene, fosse uma opção e não um dever cívico.

Festa do Avante – O Governo não pode impedir a realização de iniciativas de qualquer Partido, salvo se vigorar um “Estado de Emergência”, proposto pelo PR e aprovado pela AR, mas houve quem usasse esse pretexto no combate partidário, desprezando a CRP. 

Turquia – O lento processo, de mais de meio século, de substituição do nacionalismo Kemalista pelo nacionalismo islâmico, saudoso do Império Otomano, foi acelerado por Erdogan, que viola os direitos humanos e transforma o Estado laico em confessional.

Brexit – Boris Johnson abdicou da lei internacional e dos compromissos sobre a Irlanda do Norte. Ao procurar o apoio dos partidários da rutura, com o ultimado à UE, despreza a ética e arrisca perigosamente a parceria económica e política com a UE.

Egito – A alternância entre ditaduras teocráticas e militares nunca impediu a detenção, difamação e humilhação de testemunhas de violações em grupo sobre mulheres. Um governo que submete manifestantes a testes de virgindade, ofende os direitos humanos.

Vicente Jorge Silva – O grande jornalista cuja morte nos deixa mais pobres, dinamizou o Comércio do Funchal e foi o primeiro diretor do Público. Dominou o estado da arte do jornalismo na perfeição, foi mestre da cidadania e um combatente da liberdade.

Birmânia – Aung San Suu Kyi, Prémio Sakharov dos Direitos Humanos pela sua luta a favor da democracia, viu-o retirado porque, no poder, foi responsável pela “violação dos direitos humanos” de que os rohingyas têm sido vítimas. A heroína tornou-se vilã.

Futebol – O apoio do PM a um candidato à presidência de um clube nunca é aceitável. O mundo do futebol é pouco recomendável e um político não pode nem deve envolver-se em ambientes insalubres. Não prejudica o país, denigre a sua imagem.

Fátima – A peregrinação do dia 13 teve tanta afluência e tão desordenada organização que conduziu à preocupação sanitária da Igreja e do País. Os que condenaram a Festa do Avante calaram-se. Não era a saúde pública que os movia, era o ódio ao PCP.

COVID-19 – A chegada de uma vacina, com eficácia e efeitos secundários aceitáveis, é anseio longínquo. A aproximação da gripe sazonal vai dificultar a resposta dos serviços de saúde, e o acatamento dos conselhos da DGS é um dever cívico de todos.

PGR – A arguição de juízes prestigia o Ministério Público, e a eventual condenação, se se provarem as acusações, mostrará que a lei é para todos. A recuperação da confiança na isenção dos Tribunais vai ser lenta e o sindicalismo judicial não a beneficia.

Comissão Europeia – A presidente, Ursula von der Leyen, revela-se uma humanista de grande exigência democrática, quer no esforço para conseguir o ordenado mínimo e um serviço de saúde europeus, quer na determinação de se opor à deriva autoritária polaca.

ONU – Celebrar o 75.º aniversário é a homenagem devida à instituição ora dirigida pelo grande humanista, António Guterres, cujo multilateralismo tanto contribuiu para que ‘na história moderna houvesse tantos anos sem confronto militar das grandes potências’.

Igreja católica –O apoio do cardeal Clemente e do bispo de Aveiro ao manifesto contra a obrigatoriedade das aulas de Cidadania provocou a carta aberta de católicos vexados e apreensivos com a sua aproximação a forças políticas da extrema-direita, atitude em que o patriarca é reincidente.

Justiça – A consistência da suspeita de corrupção de juízes revela o dramático contraste da decadência moral e cívica dos países do sul da Europa com os do norte protestante. O escrutínio do poder jurisdicional e dos seus membros é exigência do Estado de Direito.

China – Força trabalhadores rurais tibetanos a abandonar a região para os transformar em operários nas suas fábricas. Segundo os grupos de defesa dos direitos humanos, usa estes programas para combater as minorias étnicas recorrendo a treino ideológico.

Brasil – O discurso de Bolsonaro na abertura da 75.ª sessão da Ass. Geral da ONU foi “delirante e negacionista”. Bolsonaro mentiu dez vezes na ONU quanto à preservação ambiental. O abrutalhado PR atribuiu aos índios os incêndios medonhos da Amazónia.

Chega – É impossível ignorar o aparecimento de um partido abertamente fascista, onde o ódio e os ataques aos direitos humanos são constantes. A fusão do partido Pró-Vida e o apoio de marginais e personalidades pouco recomendáveis augura o pior.

Durão Barroso – Foi surpreendente a sua nomeação para presidente da Aliança Global para as Vacinas (GAVI), por ser uma influente personalidade no mundo dos negócios, a menos que a intuição para a descoberta de armas químicas o recomendasse para o cargo.

EUA – Com um PR imprevisível, mentiroso, envolto numa nebulosa de suspeitas, capaz de insinuar a possibilidade da transição violenta de poder, caso perca as eleições, a sua derrota esmagadora é a esperança que resta num mundo à beira do caos.

Ponte Europa / Sorumbático

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