Covid-19 e civismo
Quando, independentemente das opções militares dos líderes do mais poderoso país do mundo, os EUA eram governados por PRs fiáveis, John F. Kennedy, disse uma frase que quase todos conhecem e me permito parafrasear e adaptar à pandemia em curso.
‘Não perguntem o que o nosso Governo pode fazer por nós para
minimizar os efeitos de uma devastadora pandemia, perguntem o que cada um de
nós pode fazer contra ela.’
Há quem não perceba que estamos em guerra, com um número de
baixas a crescer, cada dia que passa, com o inimigo, o último coronavírus, a alimentar-se
da nossa negligência e falta de civismo.
Perguntem que povo somos, capaz de pôr em risco a nossa vida
e a de outros, quando os casamentos, batizados e demais reuniões sociais são o
principal veículo de proliferação do vírus, e a incúria e ausência da
responsabilidade individual continuam a promovê-la.
Quando se usa o muito que falta saber sobre a pandemia para
negar os mais elementares princípios de prudência e pôr em causa as mais provadas
medidas de higiene sanitária, é a demência que substitui a sensatez, a vocação
suicidária a prevalecer sobre o princípio da conservação da espécie. É o
desatino a provocar o caos.
Surpreende que a principal força de segurança, a GNR, com a obrigação
de ser exemplo de civilidade, longe de ter um comportamento cívico espectável,
organize almoços de convívio com oficiais que findam a (co)missão e se torne a responsável
por numerosas cadeias de transmissão do vírus, através dos convivas infetados em
festas de despedida.
Há em Portugal, um país que só conheceu a liberdade por tão
longo período, após o 25 de Abril, a falta de civismo que o leva a preferir a
imposição de restrições à liberdade à submissão voluntária a condutas que o
civismo exige e a sobrevivência coletiva impõe.
É tempo de fazermos algo por nós, e pelos outros, sem procurarmos
bodes expiatórios a quem culpar. É tempo de todos e cada um assumirmos a
responsabilidade que nos cabe.
Comentários
E o civismo passa justamente pelo reconhecimento da necessidade da submissão voluntária da nossa vontade ao interesse do coletivo. Não uma submissão absoluta, mas a suficiente para respeitarmos o Outro e ganharmos o seu respeito.
A capacidade de um Estado pedir aos seus cidadãos que cumpram as regras também depende da 'auctoritas' latina, a capacidade de comandar sem obrigar. E aí a força do exemplo é crucial, pelo que os episódios com a GNR são verdadeiramente lamentáveis.
As pessoas só sentem o perigo quando ele está muito próximo. Se muitas pessoas tivessem conhecimento da morte de familiares ou amigos próximos, essas pessoas iam acreditar que é necessário alterar comportamento... só aí o instinto de sobrevivência ia atuar.