Natal – deem uma oportunidade à vida
Todos sabemos como a data que celebrava o nascimento anual do Deus Sol no solstício de inverno foi apropriada pela Igreja católica no séc. III para converter os povos pagãos do Império Romano, e passou a comemorar o nascimento de Jesus, o Cristo.
Independentemente do que representa para o imaginário
cristão, é a festa da família que anualmente repete uma das melhores tradições
familiares e nos remete para as afetuosas recordações de infância, quando três
ou quatro gerações se reuniam à mesa da consoada.
Não havia, então, nas aldeias portuguesas, eletricidade,
água canalizada ou saneamento, faltavam as luzes que piscam, os presentes caros
e os embrulhos reluzentes, mas havia o Presépio da escola primária e da igreja
onde os musgos seguravam esmeradas figuras de barro, saídas de olarias
rudimentares, que gerações de artesãos anónimos moldavam e pintavam com desvelo
e arte.
Com ou sem presépio, este substituído pela árvore de Natal, como
o Menino Jesus pelo Pai Natal, também de proveniência exógena, a data mantém a
forte carga simbólica que prende os laços familiares e os afetos que a vida
moderna torna cada vez mais frágeis.
O Governo, sabendo dos sentimentos da população, transigiu
em tempos de pandemia, e corre-se o risco de esquecer as preocupações
sanitárias e de, na excitação das saudades matadas, não resistir aos braços que
nos abraçam e aos beijos de que andamos carentes.
A autorização do Governo não é um convite ao abrandamento das
normas sanitárias que nos remetem ao confinamento e à privação do contacto
físico com os entes queridos, é a cedência a quem prefere o risco de festejar o
último Natal para se encontrar em janeiro no primeiro funeral, de quem troca a
alegria breve da celebração da vida pelo perigo de uma perda irreparável e da
pungente dor da perpétua ausência de quem ama, que teve no ágape familiar o
derradeiro encontro e a causa de ser o último.
Se pudesse persuadir alguém, dir-lhe-ia para reprimir a
saudade e conter a ansiedade e as lágrimas, para evitar ao sistema de saúde a
rutura e aos seus profissionais a exaustão.
A pandemia não faz pontes, não vai de férias, não dá tréguas
e, manda a prudência que as normas sanitárias, com ou sem coerção, sejam
cumpridas, sobretudo neste Natal.
Deem uma oportunidade a vida.
Ponte Europa / Sorumbático
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Agradeço e retribuo os votos. Se não houver um imprevisto estarei bem acompanhado com a mãe e avó dos nossos filhos e netos com quem me reunirei através do Skype.