O combate à corrupção e a República de magistrados
Se não forem criados o sindicato de membros do Governo e o de deputados da AR, para responderem aos sindicatos de magistrados judiciais, ou não se extinguirem os últimos, é de temer que a democracia seja confiscada pelo poder judicial.
Se um governante ou um qualquer deputado pusesse em causa a
jurisprudência, exigia o dever de cidadania a execração do energúmeno, o que ainda
não aconteceu.
Sendo a sugestão de leis e a condenação das que existem arma
de arremesso partidário, urge estar atento ao único poder não escrutinado.
Quando nos habituamos às movimentações do sindicato do Ministério
Público para ser o sindicato a escolher o/a PGR, e se atreve a apreciar e censurar
o superior hierárquico de todos os seus sócios, é de temer que a investigação
possa escolher alvos e tornar-se seletiva, ma são ainda piores as posições do
sindicato dos juízes, através do presidente da ASJP, quinzenalmente, às
quartas-feiras, no jornal Público.
O Sr. Manuel Soares, presidente da ASJP, escreveu no jornal
onde é colunista, em 30 de junho de 2021, um artigo de opinião assustador.
Sob o sugestivo título, “Dizer uma coisa e fazer outra”, o
presidente da ASJP, temendo a imbecilidade do povo, começa por dizer: “Com
tanto falatório sobre a criminalização da ocultação de riqueza adquirida em
funções públicas, múltiplas declarações do PR, do PM, da ministra da Justiça e
dos partidos políticos, (…) é grande o risco de (…) engolir o primeiro rebuçado
que apareça bem embrulhado”.
A seguir convida os leitores a irem ao essencial, com dois
exemplos, segundo a opinião douta do esclarecido sindicalista, para
criminalizar o titular de cargo público: ‘a quem é prometida a entrega de um
milhão de euros para receber três anos depois de terminar funções e o que
recebe um milhão de euros e os esconde na conta de um amigo ou numa sociedade
offshore’.
Até pode ter razão, mas essa é competência dos legisladores,
não dos julgadores, e só os primeiros são escrutináveis. A sua opinião sobre os
partidos bons e maus em relação ao acolhimento do que ele julga dever ser
votado é que assusta, considerando bons o PCP, BE, PAN, PEV, IL e CDS-PP e maus
o PS e o PSD, o que é inaceitável, como o seria se invertesse a qualificação
dos partidos.
O douto sindicalista considera ‘risíveis as
desculpas’ do PSD e PS, onde a atitude tardia e acanhada do PS e as
palavras dúbias e incomodadas do PSD para não aprovarem a lei que ele considera
justa, o incomodam.
Referindo-se às posições dos dois partidos, entende que “com
argumentos desta espécie, é difícil manter a discussão num nível sério” e, em
desvario, agride Rui Rio, troçando da sua palavra ‘corruptozito’ para referir a
‘corrupçãozinha’, e alega que, no combate à corrupção, “a atitude tardia e
acanhada do PS e as palavras dúbias e incomodadas do PSD já faziam adivinhar
que não vinha aí grande coisa”, e termina num ataque insólito, aos eleitores: “O
povo refila muito, mas na hora do voto parece que gosta de ser enganado.” [sic]
Tudo o que denigra os partidos passou a ser legítimo e pode um
juiz entrar no combate partidário? Ou estaremos perante o futuro líder da
criação de um movimento zero de juízes ou de juízes pela verdade?
É assustador ver um juiz a ignorar a separação de poderes e,
ungido por uma qualquer divindade, vê-lo entrar em campanha contra a democracia!
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