A social-democracia está de volta?
Passada a solidariedade, que o fim da guerra (1939/45) exigiu à martirizada Europa, foi-se perdendo o sentido da justiça social. A deriva neoliberal fez caminho com Margaret Thatcher, secundada por Reagan e líderes da América Latina, nomeadamente Color de Melo e Fernando Henriques Cardoso, e exerceu influência deletéria inclusive em órgãos multilaterais, FMI e Banco Mundial.
As últimas três décadas acentuaram o neoliberalismo, na
Europa e no Mundo, com a descida ao inferno dos mais carenciados, da Europa e
dos EUA à China onde um Estado designado comunista usa a ditadura para o mais
desalmado liberalismo económico.
Os partidos conservadores europeus, com exceção da CDU alemã,
onde a presença forte da estadista Angela Merkel, evitou desvios nacionalistas,
tenderam para uma direita de contornos nacionalistas, fortemente neoliberais e,
até, antidemocráticos. O PP espanhol, agora mais próximo do VOX do que da
matriz conservadora e democrata-cristã, está a tornar-se um perturbante exemplo
ibérico.
Não parece que a mentalidade dos povos, passada a fase mais
aguda da pandemia, onde os Estados tiveram forte intervenção, tenha readquirido
o sentido da solidariedade ou que o perigo real da exaustão dos recursos da
Terra, com a explosão demográfica, o consumo infrene e a ilusão do crescimento
contínuo, tenha despertado o sentido de compaixão.
Há, no entanto, alguns sinais de esperança na Europa que
parecia condenada a escolher entre a direita democrática e a extrema-direita. Os
últimos resultados eleitorais dos países nórdicos levaram a social-democracia ao
poder na Suécia, Dinamarca, Finlândia, Islândia e, agora, também na Noruega,
embora com governo minoritário, depois de não conseguir acordo com os partidos
mais à esquerda.
Na Alemanha o partido mais votado foi o SPD e, nas recentes
eleições locais italianas, o PS e o Partido Democrático melhoraram os
resultados.
Estamos longe de ver consolidada uma situação que recupere
décadas de neoliberalismo e nos liberte das ameaças nacionalistas e fascizantes
que, sobretudo a Polónia e Hungria representam. No plano económico até o
governo do Reino Unido, fortemente neoliberal, foi obrigado a uma política
social-democratizante durante a pandemia.
Não regressámos ao equilíbrio nem estão consolidadas as tendências recentes, mas é já um motivo de esperança para quem teme a deriva nacionalista, xenófoba e neoliberal que ameaçava dominar a Europa.
Ponte Europa / Sorumbático
Comentários
Qual democracia avançada, Monteiro? A do Gulag? A do pacto germano-soviético? A do Grande Salto em Frente e da Revolução Cultural? Para isso prefiro as democracias imperfeitas ocidentais, cujos contornos são bem mais benignos...
O PS não é de facto um Partido Social-Democrata e sim Social-Liberal porque a Social-Democracia de antanho faliu com as crises petrolíferas dos anos 70. E a tentativa da sua reedição por Mitterrand nos anos 80 durante o Governo Mauroy obrigou o PR francês depois a chamar Jacques Delors para segurar o franco e a inflação...
A chamada Terceira Via foi a forma encontrada por Guterres, Blair, Schroeder e outros de cativar um eleitorado de classe média, liberal nos costumes e liberal no apoio ao modelo econômico criado por Thatcher e Reagan...
Por isso, Carlos Esperança, temo bem que a crise atual seja antes de tudo uma crise das ideologias. Tudo o que foi tentado falhou, de forma clamorosa como o socialismo real ou de forma mais suave como a dita social-democracia e agora o neoliberalismo.
E nessa voragem e na voragem de uma crise climática que já mostrou às pessoas que no futuro vamos ter que ser todos mais pobres se quisermos sobreviver, a populaça mantém-se em estado de negação e vota no primeiro populista que lhe prometer que para problemas complexos há sempre uma solução elegante, simples e errada...
Com o seu último parágrafo estou completamente de acordo, mas ainda acredito na social-democracia.
Eu ouvi o António Costa dizer que era social-democrata desde os 15 anos e isto não foi há muito tempo. Depois até a Catarina Martins também veio dizer que era social-democrata. Como o PPD do Rui Rio também se diz social-democrata eu pensei que vivíamos num país maioritariamente social-democrata daí eu não compreender e ter perguntado ao Dr. Carlos Esperança que social democracia era aquela que aí vinha porque me leva a crer ser tudo a mesma coisa.
O Sr. Jaime Santos faz-me lembrar aqueles americanos que acreditam no Adão e Eva e que Deus tudo criou e não são capazes de estudar a Origem e Selecção das Espécies de Darwin.
A China que o sr. conhece é aquela que lhe contaram quando andou na catequese e é incapaz de estudar planificação económica, por exemplo, que eu vivi na prática no meio de plenários de trabalhadores. Confesso-lhe que ao principio me chocou ter de fazer Orçamentos (a sério não como os de cá) para 5 anos. Eu com toda a minha "sabedoria" alicerçada na cultura contabilística francesa bem reagi pela negativa, ter de fazer Balanços e Demonstrações de Resultados sem nada de palpável na mão para 2022-2023-2024-2025 era como que uma brincadeira de crianças, podia lá ser. Era tão "anedótico" que o resultado de 2021 ainda a meio do ano já passava para 2022 e por aí fora. Mas quando comecei a ver os resultados na prática concluí que o capitalismo faz tudo a olho e depois produzem em excesso e têm de arranjar mercados para escoar a produção a bem ou a mal, daí as guerras, que agora seguem a via da CEE e já tem 27 mercados sem terem dado tiro nenhum. Mas o problema subsiste e vai sendo disfarçado com a desorganização. Produzir camiões? O capitalismo faz isso de uma forma extraordinária. Quantos? Ninguém pensa nisso, é tipo economia à D. Branca até que um dia as falências se sobrepõem a que chamam crises e andamos sempre de crise em crise.
Eu conheço bem o Arquipélago de Gulag de Soljenitz e não me surpreendeu mas isso é outra História.
No futuro não temos de ser mais pobres, temos de ser apenas mais organizados. A Terra produz em abundância para todos não se pode é gastar milhões de dólares a troco de 10 minutos no espaço. Conheci grandes capitalistas que se suicidaram e isso o Mundo não quer porque não é necessário.
O Carlos Esperança, sem título académico, castrense, nobiliárquico ou eclesiástico, nem sequer uma venera, agradece o seu bem elaborado comentário que, oralmente, daria uma excelente troca de impressões.
Estou tão longe de me rever no centralismo democrático como de considerar social-democrata o PSD, talvez por conhecer a História das várias Internacionais, a NEP (às vezes mal traduzida por Nova Economia Política) da implodida URSS, e ter informações que julgo sérias sobre a China atual.
Não é provável que, para além de coincidirmos sobre os malefícios do capitalismo, venhamos a partilhar o mesmo ideário,
Cumprimento-o com simpatia.
É que até ver, o Senhor não passa de um anónimo. Como eu, aliás, só que eu não me venho vangloriar para aqui de nada... E o que um anónimo, qualquer um, reclama ter dito ou feito, vale rigorosamente zero.
É que se não apresentar qualquer prova, o Sr. não faz lembrar os criacionistas que acreditam no Adão e na Eva, sabe? Faz mesmo lembrar aqueles vigaristas que tentam enganar papalvos com histórias da carochinha...
Finalmente, Catarina Martins, António Costa e Rui Rio diferem naquilo que definem como social-democracia, como é óbvio. Catarina Martins está mais próxima do socialismo democrática dada a sua preferência pelo estatismo, Costa é um social-liberal de Terceira Via e Rio uma pessoa de Centro-Direita proveniente de um Partido que se chama Social-Democrata e que teve lá uns Social-Democratas nos idos de 1970...
Mas que quer? O PCP diz-se Marxista-Leninista mas na realidade tem hoje um programa público que também se situa no Socialismo Democrático. Pode é ser que seja apenas o programa público... Por isso, ninguém é o que diz ser, muito menos os pseudo-comunistas da RPC...