Isabel Jonet – A ALMA MÁ DE SETSUAN

Isabel Jonet, presidente e fundadora do Banco Alimentar, disse, há dias, que os pobres têm uma “tendência natural para gastar o dinheiro malgasto” e propôs ensiná-los a não gastar de uma só vez os 150 euros atribuídos pelo Governo.

Admirou-se quem ignorava que, há dez anos, já mostrara o seu espanto ao constatar que muitos pobrezinhos ousavam comer bife quando lhes faltava o básico.

Há 80 anos, Bertolt Brecht contou-nos a história de três deuses que vieram à Terra à procura de uma alma boa e que encontraram na prostituta Chen Tê, que os acolheu, a alma que procuravam. Foi assim, graças ao encontro de uma única alma boa que os deuses desistiram de acabar com a porcaria cuja criação lhes atribuem.

Com uma tabacaria, a prostituta conseguiu ser esmoler ao mesmo tempo que apareciam os oportunistas que dela se aproveitavam e a exploravam. Acabou por inventar a figura masculina de um alegado primo, Chui Ta, vestindo-se de homem, engrossando a voz e tornando-se má para se livrar dos parasitas. E é nesta alternância dialética entre Chen Tê e Chui Ta, que a peça de Brecht se desenrola.

Diga-se de passagem, que Chen Tê, na noite que acolheu os deuses, deixou de atender um cliente para fazer a sua boa ação.

Não sei porque me lembrei hoje desta peça e da personagem principal. Há associações por semelhança, contraste e proximidade, e ignoro qual foi a que me trouxe à memória a dramaturgia de Brecht.

Talvez a região da milenária China onde viveu Chen Tê seja no multissecular Portugal a zona de Cascais e as tias que vivem na proximidade da paradisíaca baía se aproximem da versão masculina de Chen Tê.

Isabel Jonet não precisou do balcão de uma tabacaria para socorrer os pobres. Ganhou a presidência do Banco Alimentar contra a Fome para exercer a caridadezinha com um olho na sopa e outro na quantidade que os pobres devoram, porque a barriga de pobre é um buraco que não enche e a sua fome insaciável. Um conjunto de pobres é um bando de porcos, capazes de comerem bifes diários, mastigados com ruído e de boca aberta, sem agradecerem aos benfeitores nem terminarem com uma prece ao bom Deus.

Hoje, a D. Isabel Jonet é a Presidente da Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares Contra a Fome e da ENTRAJUDA. As provas do merecimento estão aí no cristalino pensamento da devota senhora, esmoler e ideóloga do Partido Cidadania e Democracia Cristã (PPV/CDC, aprovado pelo Tribunal Constitucional em 1 de julho de 2009 sob a designação de Portugal pró-Vida (PPV), desde 2020 fundido com o Chega.

Em Portugal há fome, e o Banco Alimentar é uma instituição que satisfaz a crente, que mostra, perante os deuses que andam por aí, que a bondade é apanágio da condição social e a sopa a marca cristã que precisa de pobres para que as tias ganhem o Paraíso.

Estimo cada vez mais as prostitutas.

Comentários

Monteiro disse…
Estas senhoras da caridade queixam-se que hoje em dia já não há pobres e que é preciso mendigar para os encontrar e assim praticarem o bem e que quando aparecem são muito mal criados e não agradecem o bem que lhes fazem, coitadinhas, tão generosas que querem ser e os pobres são uns arrogantes que só querem o comunismo.
Monteiro:

Não lhes faltarão pobres a curto prazo. Aliás, vai acontecer em toda a Europa.

Mensagens populares deste blogue

Divagando sobre barretes e 'experiências'…

26 de agosto – efemérides