Há quem esqueça a opressão salazarista e denigra a primeira República, para justificar a ditadura, e quem deprecie a democracia para ilibar o regime fascista que a precedeu. Deixar que o tempo apague a memória e a amnésia absolva os crimes, é um favor prestado às forças totalitárias, adormecidas e nunca erradicadas. Há 97 anos, o levantamento militar, de índole nacionalista e antiparlamentar, trazia já no bojo o fermento totalitário que começou na ditadura militar e acabou na tirania fascista, designada antes como Ditadura Nacional. Gomes da Costa saiu de Braga, cidade moldada pelo catolicismo reacionário, e acabou aclamado na Avenida da Liberdade, em Lisboa, à frente de 15.000 homens. Foi a desforra dos miguelistas, do catolicismo caceteiro e dos órfãos de João Franco e Paiva Couceiro. António Sardinha, Hipólito Raposo e Rolão Preto, ideólogos do integralismo lusitano, votavam à República um ódio igual ao que tinham à monarquia constitucional. Era a liberdade que os intimidava,